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Vitória de socialista na primária de NY sacode democratas – 25/06/2025 – Lúcia Guimarães

“Como é possível os eleitores da maior cidade americana estarem escolhendo entre um socialista de 33 anos e uma peste sexual?” O veterano jornalista político que publicou esta pergunta, no fim de semana, mostrou que morar longe daqui pode confundir a visão do panorama local.

Num dia de calor escorchante, a eleição primária para prefeito de Nova York ofereceu a resposta: o jovem socialista muçulmano botou a peste para correr. Andrew Cuomo, que renunciou em desgraça, acusado, com credibilidade, de assediar 11 mulheres quando governava o estado, pediu penico no final e arrancou um endosso de Bill Clinton. O patriarca democrata podia ter se poupado do embaraço.

Já o octogenário Michael Bloomberg não se sentiu nada constrangido em assinar um cheque de US$ 9 milhões para engordar a campanha de Cuomo, cujos cofres bateram um recorde de US$ 25 milhões.

É preciso ignorar as estultices do comentariado que vê em políticos cavalos de corrida para entender como Zohran Mamdani sacudiu o establishment do Partido Democrata. Enquanto escrevo, os dois mais poderosos democratas no Congresso, o deputado Hakeem Jeffries e o senador Chuck Schumer, ambos nova-iorquinos, ainda não endossaram o candidato do seu partido, cuja vitória na primária eleitoral, antes do final da contagem, está matematicamente garantida.

Ambos se juntaram à governadora Kathy Hochul para parabenizar a criativa campanha de Mamdani, que tirou jovens de casa para votar pela primeira vez, gravou comerciais em hindi e urdu e disse, nesta quarta-feira (25), que recebeu até votos de eleitores de Donald Trump. É uma vitória sem precedentes na história da cidade.

O deputado sulista negro James Cliburn, 84, cujo apoio viabilizou a vitória de Joe Biden em 2020, deu pitaco lá da Carolina do Sul, pedindo votos para Cuomo, que tinha forte base entre o eleitorado negro. Mas a antipatia pelo ex-governador, cujas mãos teimavam em aterrissar em funcionárias enojadas, mostrou-se um obstáculo intransponível para o ensolarado e energético de Mamdani.

Ele é filho da cineasta indiana Mira Nair e do escritor Mahmood Mamdani, um autor e acadêmico nascido em Uganda de uma família indiana de Gujarat, o estado que, quando era governado por Narendra Modi, promoveu a matança indiscriminada de mais de mil muçulmanos, em 2002.

Nova York tem a maior população judaica fora de Israel —perto de 1 milhão, o mesmo número de muçulmanos vivendo aqui. A guerra em Gaza se tornou um teste hipócrita da campanha numa cidade em que expressar apoio incondicional e acrítico a Israel tem sido o rito de passagem obrigatório para todo aspirante a prefeito.

Mamdani foi acusado de antissemitismo, mas recebeu apoio do talvez melhor e mais experiente dos candidatos, o democrata judeu Brad Lander, atualmente o secretário de Economia da cidade.

Ainda é possível que Mamdani perca em novembro, porque os interesses econômicos alinhados contra o jovem que quer congelar aluguéis, abrir mercearias populares e eliminar a cobrança de passagem de ônibus são poderosos.

O atual prefeito Eric Adams poderia pular para uma chapa republicana. Cuomo pode concorrer como independente. “Terror é o sentimento”, disse ao jornal The New York Times uma veterana porta-voz dos empresários nova-iorquinos.

Como testemunhei duas torres imensas desmoronando, há 24 anos, e Mamdani recebeu ameaça de bomba em seu carro, costumo ser mais parcimoniosa no uso da palavra terror.


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Fonte: Folha de São Paulo

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