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HomeMundoTurquia: charge com profetas gera prisões e protesto - 01/07/2025 - Mundo

Turquia: charge com profetas gera prisões e protesto – 01/07/2025 – Mundo

O governo da Turquia prendeu nesta segunda-feira (30) funcionários da revista Leman responsáveis pela publicação de uma charge que supostamente retrata o profeta islâmico Maomé cumprimentando o profeta judaico Moisés sobre um ambiente de guerra. O líder do partido governista considerou a publicação um “crime de ódio islamofóbico”.

O presidente Recep Tayyip Erdogan se pronunciou nesta terça -feira (1º) ao classificar de “provocação vil” a charge. “Não permitiremos que ninguém fale contra nossos valores sagrados, não importa o que aconteça. Aqueles que desrespeitarem nosso Profeta [Maomé] e outros profetas serão responsabilizados perante a lei”, acrescentou.

Após as primeiras críticas, a revista pediu desculpas aos leitores que se sentiram ofendidos e afirmou que foi mal interpretada. “Esse desenho não é, de forma alguma, uma charge do profeta Maomé. Nessa obra, é o nome de um muçulmano que foi morto nos bombardeios de Israel. Mais de 200 milhões de pessoas no mundo islâmico se chamam Muhammed [uma das grafias possíveis]. Jamais correríamos um risco assim”, afirmou o redator-chefe da revista, Tuncay Akgun, à agência de notícias AFP.

Em uma declaração no X, a revista disse que “a obra não se refere ao profeta Maomé de forma alguma”. Os muçulmanos consideram blasfêmia as representações do profeta Maomé.

O cartunista, Dogan Pehlevan, procurou destacar “o sofrimento de um homem muçulmano morto em bombardeios israelenses“, disse a revista, acrescentando que não havia intenção de insultar o Islã ou seu profeta. A revista instou as autoridades a combater o que chamou de campanha de difamação e a proteger a liberdade de expressão.

Mais de 200 pessoas se reuniram para protestar contra a Leman no centro de Istambul na noite de segunda, apesar da proibição de aglomerações e da forte presença policial. Dezenas de manifestantes atacaram um bar frequentado por funcionários da revista, no centro da cidade. O protesto resultou em confronto entre os manifestantes e a polícia, que disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.

Fundada em 1991, a Leman é alvo dos conservadores turcos, principalmente depois que apoiou a revista francesa Charlie Hebdo após um ataque terrorista à sua Redação em Paris, em 2015 —motivado também pela publicação de charges satíricas que retratavam o profeta Maomé.

“Isso não tem nada a ver com arte, ideias, liberdade de expressão ou liberdade artística”, disse Omer Celik, porta-voz do partido governista AKP, a repórteres em Ancara. “Em nossa opinião, isso é um crime de ódio —um ato de hostilidade direcionado diretamente ao islã, ao profeta Moisés e ao nosso profeta [Maomé].”

Vários grupos da sociedade civil condenaram as detenções, chamando-as de violação da liberdade de pensamento e expressão. A classificação da Turquia em liberdade de expressão é baixa devido às restrições à mídia e ao discurso público. A Repórteres Sem Fronteiras classificou o país em 158º lugar entre 180 países em seu Índice de Liberdade de Imprensa de 2024.

Na noite de segunda-feira, o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, compartilhou um vídeo no X que mostra policiais detendo Pehlevan com as mãos algemadas atrás das costas enquanto ele é arrastado por uma escada. Ele também compartilhou vídeos de outros três homens sendo retirados de suas casas e arrastados para dentro de vans, um deles descalço.

“O indivíduo que desenhou esta imagem vil foi detido e levado sob custódia. Estas pessoas sem vergonha serão responsabilizadas perante a lei”, escreveu Yerlikaya. O governo disse que foi aberta uma investigação respaldada por um artigo do código penal que criminaliza a incitação ao ódio e à inimizade, e que, além disso, foram emitidas ordens de detenção para um total de seis pessoas.

Fonte: Folha de São Paulo

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