O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, instruiu os diplomatas americanos em todo o mundo a não comentar sobre a imparcialidade ou integridade das eleições realizadas por países estrangeiros, de acordo com uma nota interna vista pela agência de notícias Reuters nesta quinta-feira (17).
A ordem representa um afastamento da abordagem tradicional de Washington de buscar promover eleições livres e justas no exterior. O conteúdo foi enviado a todas as representações diplomáticas dos EUA em um telegrama interno do Departamento de Estado nesta quinta, e diz que o órgão não emitirá mais declarações relacionadas a eleições ou postagens nas redes sociais oficiais do país, a menos que haja um interesse “claro e convincente” de política externa.
“Quando for apropriado comentar sobre uma eleição estrangeira, nossa mensagem deve ser breve, focada em parabenizar o candidato vencedor e, quando apropriado, observar os interesses comuns de política externa”, delimita o telegrama, que foi marcado como “sensível”, mas não secreto.
“As mensagens devem evitar opinar sobre a imparcialidade ou integridade de um processo eleitoral, sua legitimidade ou os valores democráticos do país em questão”, acrescenta.
O documento ainda determina que as mensagens relacionadas às eleições devem provir do próprio secretário ou do porta-voz do departamento, e proíbe os diplomatas americanos de emitirem tais declarações sem a aprovação explícita da liderança sênior da agência.
Em 2022, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito no Brasil, a gestão do democrata Joe Biden rapidamente declarou reconhecer a vitória do petista e o parabenizou pela conquista. À época, a Casa Branca não havia informado se reconheceria o vencedor das urnas automaticamente, como pediam parlamentares democratas, que temiam que uma demora em reconhecer a derrota de Jair Bolsonaro pudesse abrir caminho para uma possível contestação do então presidente brasileiro.
O telegrama de Rubio desta quinta, por outro lado, faz referência ao discurso do presidente Trump em 13 de maio em Riad, quando ele criticou o que chamou de “intervencionistas ocidentais” que dizem aos países do Oriente Médio como governar seus próprios assuntos, afirmando que isso não era mais da conta de Washington e que o país buscava formar parcerias.
“Embora os Estados Unidos mantenham firmes seus próprios valores democráticos e celebrem esses valores quando outros países escolhem um caminho semelhante, o presidente deixou claro que os Estados Unidos buscarão parcerias com países onde quer que nossos interesses estratégicos se alinhem”, diz a diretiva.
Quando questionado sobre o documento, um porta-voz do Departamento de Estado repetiu alguns dos pontos da diretiva e disse que essa abordagem é consistente com a ênfase da administração na “soberania nacional”.
Os Estados Unidos tradicionalmente consideram a promoção dos direitos humanos e da democracia, bem como a liberdade de imprensa, como um objetivo central da política externa, embora os críticos tenham repetidamente apontado o duplo padrão que Washington tem adotado em relação aos seus aliados.
Sob Trump, o governo tem se afastado cada vez mais da promoção da democracia e dos direitos humanos, considerando isso, em grande parte, uma interferência nos assuntos de outro país. O presidente tomou medidas, por exemplo, para reformular a repartição de direitos humanos do Departamento de Estado, que, segundo ele, se tornou uma plataforma para “ativistas de esquerda promoverem vinganças contra líderes ‘anti-woke’”.
Autoridades do governo Trump têm se pronunciado repetidamente sobre a política europeia para denunciar o que consideram repressão a líderes de direita, incluindo na Romênia, Alemanha e França, acusando as autoridades da região de censurar opiniões em nome do combate à desinformação.