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Trump faz parada militar milionária em meio a crise – 13/06/2025 – Mundo

No meio da crise criada pelo emprego de tropas federais para controlar protestos na Califórnia, o presidente Donald Trump vai aprofundar seu laço com as Forças Armadas promovendo neste sábado (14) a primeira parada militar em 34 anos na capital americana, Washington.

Será um espetáculo ao estilo do republicano, com a duvidosa ostentação do gasto estimado em até US$ 45 milhões (R$ 250 milhões) para desfilar dezenas de blindados, 6.700 soldados e fazer voar aviões de guerra sobre uma cidade com histórico algo alérgico a essas demonstrações.

Fora o toque personalista. A desculpa do evento são os 250 anos do Exército dos Estados Unidos, formado para lutar a guerra que deu a independência ao país em 1776, mas caprichosamente a data coincide com a do aniversário de Trump.

Críticos do republicano focam no aspecto autoritário do presidente, que completa 79 anos. Paradas militares costumam ser associadas no exterior a países com homens fortes, tradição militarista ou ambas as coisas.

Desde o tempo da União Soviética Moscou é palco de tais manifestações. Todo ano, o Dia da Vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial é celebrado com pompa, que foi turbinada desde que Vladimir Putin chegou ao poder há mais de um quarto de século.

Não por acaso, desde seu primeiro mandato (2017-2021) Trump tem em Putin um dos líderes que mais admira, mesmo durante crises. Na sua volta à Casa Branca, o republicano retirou o apoio incondicional a Kiev na Guerra da Ucrânia e molda uma tentativa de negociação ao gosto do Kremlin.

Na parada russa deste ano, em 9 de maio, Putin esteve ao lado de ditadores, autocratas e simpatizantes, como Lula (PT). Mas o principal visitante era Xi Jinping, o líder do regime chinês, também admirado por Trump. Ele é frequentador bissexto de paradas, mas quando o faz, faz com estilo —miríades uniformizadas, mísseis nucleares.

Não esteve em Moscou Kim Jong-un, o excêntrico ditador norte-coreano que multiplica o gosto russo várias vezes em seus espetáculos em Pyongyang e, no mandato anterior de Trump, viu o americano lhe oferecer uma relação pessoal.

Há exemplos análogos na esfera democrática, como a celebração do 14 de Julho na França ou mesmo o 7 de Setembro brasileiro, que já foi sequestrado por um fã de Trump, Jair Bolsonaro, mas grandes paradas são usualmente coisa de autocracias.

A parada de Trump não terá mísseis Minuteman-3 de silos terrestres ou Trident-2 navais, seus vetores atômicos, mas uma demonstração da alta tecnologia nos céus, com a previsão de sobrevoos com bombardeios furtivos B-2 e caças de quinta geração F-22.

Em solo, haverá quase 30 tanques M1A2 Abrams, esteio do Exército, e diversos outros blindados e equipamentos, muitos em uso por Kiev. Placas de aço foram colocadas nos trechos pelos quais os veículos passarão para tentar proteger o asfalto.

Trump gosta da simbologia bélica. Esteve em base militar nesta semana e recheou o Salão Oval de símbolos de suas forças. Do ponto de vista de discurso, contudo, é contra o papel americano de policial do mundo, rejeitando engajamentos de forma seletiva —não à Europa e à Ucrânia, sim a Israel, por exemplo.

Para complicar, há a questão da Guarda Nacional e dos fuzileiros navais ativados na Califórnia. O governo local está processando a Casa Branca pela raríssima intervenção em protestos contra a política anti-imigração de Trump.

A imagem de tanques e blindados chegando em colunas à capital, sendo desembarcado de trens vindos de bases em outros pontos do país, foi duramente criticada pela oposição democrata. A rotina na cidade mudou, com material militar espalhado, bloqueios, treinos de paraquedistas.

Há a questão do custo. Pesquisa da Associated Press e do instituto Norc publicada nesta sexta-feira (13) mostrou que 60% dos americanos acham que é um desperdício de dinheiro público. Já o apoio ao evento em si é maior: 40% concordam com ele, ante 29% que são contrários e 31%, indiferentes.

Trump afirmou que irá haver repressão dura caso sua parada, que começa às 18h30 (19h30 em Brasília) e termina com show e fogos de artifício, seja objeto de protestos. Por ora, não há nada previsto em Washington, mas 1.500 cidades americanas têm marcadas manifestações contra o governo neste sábado.

Apesar de ser a sede da maior potência militar da história humana, Washington não é afeita a exibições de força, algo que historiadores atribuem à necessidade contínua de acomodação em um país federalista —os EUA que conhecemos é filho de uma guerra civil fraticida, encerrada em 1865.

Depois dela houve uma parada celebrando a união à força do país. Mais recentemente, a capital só viu tropas em sua rua em 1942 e 1946, durante e após a Segunda Guerra, em 1953 e 1961, para a posse de Dwight Eisenhower e John Kennedy, respectivamente, e em 1991 —para celebrar o fim da primeira Guerra do Golfo.

Trump havia tentado várias vezes promover tal parada em seu primeiro mandato, mas a desconfiança do Pentágono impediu que os planos fossem em frente. Agora, empoderado em sua nova encarnação e prometendo gastos militares em alta, aproveitou a efeméride do Exército para remover resistências.

Fonte: Folha de São Paulo

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