A mais recente rusga entre os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe pouca novidade em termos práticos sobre a deportação de colombianos dos EUA.
Bogotá recebeu em 2024 quase 15 mil deportados pelo governo americano, segundo o jornal El Tiempo, a partir de dados migratórios colombianos. A repatriação de migrantes irregulares, portanto, não é novidade do governo Trump —assim como no caso das deportações ao Brasil, já existentes desde ao menos o primeiro mandato do republicano (2017-2021).
Até então, no entanto, os voos de repatriação eram feitos em aviões civis fretados por Washington. Neste domingo (26), Petro se recusou a receber colombianos deportados que estavam retornando em aeronaves militares.
“Nunca nos recusamos a receber migrantes e tentamos impedir a migração. […] Mas não exija que eu receba deportados dos EUA algemados e num avião militar. Não somos colônia de ninguém“, escreveu Petro no X.
No Brasil, a aeronave com deportados brasileiros que chegou a Manaus no sábado (25) a noite era civil, como tem sido o caso ao menos desde a primeira gestão Trump, passando pelo governo de Joe Biden.
Em vários desses casos os migrantes também foram algemados, conforme acordo de 2021 do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) com Washington.
Por meio de troca de notas diplomáticas e comunicados naquele ano, autoridades americanas deixaram claro que se reservavam o direito de algemar os deportados, como é o procedimento padrão nesses casos, mas afirmaram que os brasileiros não desembarcariam no Brasil com algemas.
Ao chegar em Minas Gerais, após avião da Força Aérea Brasileira (FAB) levá-los de Manaus ao aeroporto de Confins, os migrantes brasileiros relataram agressões e tratamento desumano por parte de agentes americanos no voo que chegou a Manaus.
Em suas mensagens em redes sociais neste fim de semana, Petro fez referência ao tratamento recebido pelos brasileiros neste fim de semana como argumento para desautorizar os voos com deportados colombianos.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que o presidente colombiano havia autorizado anteriormente os voos e cancelado essa autorização quando os aviões já estavam no ar. As aeronaves, então, tiveram de retornar aos EUA —mais tarde, Petro afirmou que enviaria avião presidencial para fazer as repatriações.
A Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) convocou reunião emergencial dos chefes de Estado e de governo em meio à disputa entre Bogotá e Washington para discutir temas como migração e unidade latino-americana. O Palácio do Planalto afirma que a participação do presidente Lula (PT), mesmo virtualmente, ainda está em análise.
Após troca de ameaças de imposição de tarifas com Trump, Petro recuou da decisão de não receber os voos.
O uso de aeronaves militares pelos EUA para repatriação não é comum, e foi autorizada por Trump por decreto, em seu primeiro dia no cargo, em que declarou emergência nacional na fronteira com o México.
“O secretário de Defesa deverá tomar todas as medidas apropriadas para facilitar as necessidades operacionais do secretário de Segurança Interna ao longo da fronteira sul, incluindo a provisão de espaço adequado para detenção, transporte (incluindo aeronaves) e outros serviços logísticos em apoio às operações de aplicação da lei sob controle civil”, diz o primeiro artigo do decreto de emergência nacional na fronteira.
As primeiras imagens divulgadas pela Casa Branca do início de detenções e deportações de imigrantes sob Trump mostravam pessoas algemadas subindo a bordo de um avião militar com destino à Guatemala —que não teve problemas para pousar no país centro-americano.