As restrições impostas pelo governo de Donald Trump a estudantes estrangeiros ameaçam a princesa Elisabeth, futura rainha da Bélgica, que aos 23 anos cursa políticas públicas em Harvard. Ela concluiu recentemente seu primeiro ano na universidade dos Estados Unidos.
Na quinta-feira (22), Trump revogou a autorização de Harvard para matricular estudantes internacionais. A medida obriga os atuais alunos estrangeiros a se transferirem para outras instituições ou a enfrentarem a perda do status legal nos EUA. Além disso, há ameaça de extensão da medida a outras universidades.
Horas depois um juiz federal na Califórnia impediu o governo Trump de cancelar o visto de estudantes estrangeiros que frequentam universidades nos EUA. Na ordem, Jeffrey White disse que o governo não pode mais prender ou deter estudantes estrangeiros por questões imigratórias até que um caso que lida com o mérito dessas detenções tenha sua tramitação concluída no Judiciário.
A gestão do republicano já prendeu pelo menos três alunos, entre eles o palestino Mahmoud Khalil, por críticas que fizeram à guerra de Israel na Faixa de Gaza ou participação em protestos pró-Palestina.
Além disso, o governo Trump também cancelou os vistos de milhares de alunos envolvidos em manifestações políticas ou que tinham algum tipo de histórico criminal —na maioria dos casos, por delitos como dirigir embriagado, que não levaram a condenações, mas ficaram registrados na base de dados do governo.
Diante dessas ameaças, o porta-voz do Palácio Real Belga, Lore Vandoorne, se pronunciou sobre a situação de sua futura soberana. “A princesa Elisabeth acabou de completar seu primeiro ano [em Harvard]. O impacto da decisão [do governo Trump] só ficará mais claro nos próximos dias/semanas. Estamos atualmente investigando a situação”.
“Estamos analisando isso no momento e vamos deixar as coisas se assentarem”, declarou o diretor de comunicação do Palácio, Xavier Baert.
Elisabeth estuda políticas públicas em um programa de mestrado de dois anos de Harvard que, segundo o site da universidade, amplia as perspectivas dos estudantes e aprimora suas habilidades para uma “carreira de sucesso no serviço público”.
A princesa é herdeira do trono belga, sendo a mais velha dos quatro filhos do rei Philippe e da rainha Mathilde. Antes de frequentar Harvard, ela obteve um diploma em história e política na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Harvard disse na quinta que a medida do governo Trump —que afeta milhares de estudantes— era ilegal e equivalia a retaliação. Nesta sexta, a universidade processou o Executivo.
Nas últimas semanas, o governo Trump congelou ou rescindiu contratos e subsídios federais à universidade que somam quase US$ 3 bilhões (R$ 16,9 bilhões). Somente na terça (20), o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA cortou US$ 60 milhões (R$ 338 milhões) em repasses federais destinados à instituição de ensino.
Agora o governo americano ameaça interferir em uma das principais fontes de renda de Harvard. Estudantes estrangeiros representam 27% do total de matriculados na universidade, mas muitos deles vêm de famílias ricas e pagam integralmente as altas mensalidades da instituição —ajudando, inclusive, a subsidiar bolsas para americanos de baixa renda. No total, havia 6.700 alunos internacionais em Harvard em 2024.
Segundo o Departamento de Segurança Nacional, a decisão foi tomada depois que Harvard se recusou a entregar dados detalhados sobre os estudantes estrangeiros, incluindo imagens de suposta participação de alunos de outros países em protestos pró-Palestina.
Em nota, Harvard disse que a suspensão de matrículas de estudantes estrangeiros é ilegal. “Estamos comprometidos em manter nossa capacidade de receber alunos e docentes internacionais, que vêm de mais de 140 países e enriquecem nossa universidade e o país imensamente”, afirma o texto. “Estamos trabalhando para acolher os membros da nossa comunidade. Essa ação [do governo] pode causar sério dano a nosso país e mina a missão acadêmica e de pesquisa de Harvard.”