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Quais são os interesses da China na crise Guiana-Venezuela – 08/12/2023 – Igor Patrick

Bravata de Nicolás Maduro ou não, a tensão na fronteira entre Venezuela e Guiana pode deixar mais do que só os países da região em uma situação delicada. A China, que por décadas esteve ao lado do regime venezuelano, vem se aproximando de Georgetown desde a descoberta das enormes reservas de petróleo no país e precisará equilibrar interesses diplomáticos e econômicos atualmente em rota de colisão.

Pouca gente sabe, mas embora a americana ExxonMobil esteja à frente da exploração das reservas guianenses, o consórcio de petroleiras tem participação significativa da Corporação Nacional de Petróleo Offshore da China (ou CNOOC na sigla em inglês).

Em novembro, a empresa, com 70% das ações controladas diretamente pelo regime chinês, anunciou que tinha iniciado a extração no bloco Stabroek utilizando navios de armazenamento e trabalhando na operação de 41 poços submarinos. Com uma embarcação construída em Singapura, a CNOOC anunciou na época que pretendia chegar a cerca de 220 mil barris de petróleo produzidos por dia até o ano que vem.

Pequim surfa no crescimento de dois dígitos do país vizinho em várias áreas. Por lá estão instaladas também empresas ferroviárias, telecomunicações, infraestrutura rodoviária, serviços aéreos e engenharia portuária, por exemplo. O comércio bilateral cresceu 213% entre 2018 e 2022. São parcerias importantes demais para serem descartadas, mesmo diante da notória e longeva relação sino-venezuelana.

No Conselho de Segurança, ao qual a discussão chegou nesta sexta, como queria a Guiana, nenhum outro membro permanente tem mais poder para intermediar o diálogo e a resolução da disputa da região de Essequibo. É bastante provável que Pequim reaja a uma potencial invasão evitando tomar lados, mas sem perder de vista seus interesses econômicos —o que pode pender seu apoio aos guianenses.

E não será preciso muito. Embora tenha escolhido fechar os olhos para a agressão russa na Ucrânia, Pequim manteve a manutenção da integridade territorial dos países como um dos pontos-chave da sua política externa. Neste caso, defender a Guiana significa aderir à preservação do status quo nas fronteiras. Nenhum racha até aí com a forma como tradicionalmente opera nas relações internacionais e um cobertor de segurança para os crescentes investimentos por lá.

Mas a neutralidade será posta à prova em caso de um conflito. Com um Exército mais fraco em comparação com a Venezuela, a Guiana está mais vulnerável e talvez não consiga proteger a infraestrutura de exploração do petróleo se for de fato invadida. Sanções a Caracas, que vinham sendo aliviadas pelos EUA carentes de uma opção após interromper a compra de petróleo russo, também podem tornar mais desafiador preservar as importações do combustível fóssil vindo dos venezuelanos.

Será preciso acompanhar também como reagem os Estados Unidos na briga. A pedido do presidente Irfaan Ali, o Comando do Sul americano já anunciou o início de operações aéreas na região. Washington tem seus próprios problemas com o regime venezuelano e parece disposta a proteger o investimento da ExxonMobil na Guiana, embora uma guerra na região seja o que Biden menos queira a um ano das eleições e já tendo que lidar com conflitos no Oriente Médio e na Europa.

Mas que ninguém se engane: a Doutrina Monroe segue viva na Casa Branca, e uma participação ativa de Pequim na mediação entre os dois lados provavelmente não será tolerada. Se para evitar algo do tipo os americanos estarão dispostos a permitir o desenrolar de uma guerra por procuração, isso precisaremos ver nas próximas semanas.


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Fonte: Folha de São Paulo

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