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Putin se volta para a China, mas negociação com Xi emperra – 16/10/2023 – Mundo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, é esperado nesta terça (17) em Pequim, para o décimo aniversário da Iniciativa Cinturão e Rota. É a principal atração do fórum do programa de infraestrutura de Xi Jinping, mas a visita é precedida por duras negociações comerciais.

Uma delas acaba de ser concluída. A gigante russa de energia elétrica Inter Rao chegou a interromper parcialmente o abastecimento na região nordeste da China, há duas semanas, porque Pequim teria recusado um aumento de 7%, resultado de um novo imposto de Moscou.

Comentaristas chineses questionaram, online. Lu En escreveu na plataforma jornalística do Baidu que a disputa mostra como “a dependência é arriscada” e cobrou “estratégia diversificada”. Já Qianliyan afirmou no WeChat que “amizade é uma coisa, negócios são outra” —e a “boa amizade” não seria afetada.

Também o comentarista russo Mikhail Zvinchuk, do canal de Telegram Rybar, avaliou que “amizade não significa que não há divergências, especialmente em negócios”, e que na China “eles não vão se envolver em caridade, concordar com todas as ofertas russas”.

No caso, acabaram concordando. Segundo a Inter Rao, na última quinta (12) Pequim aceitou pagar o aumento, afastando um ruído às vésperas do encontro bilateral. Mas o fornecimento russo só deve voltar daqui a uma semana.

Resta o outro ruído no comércio de energia, maior e também citado pelos três comentaristas, o gasoduto Power of Siberia 2. Ele retornou com o anúncio do governo russo de que estaria nos “estágios finais”, e com um relatório da consultoria S&P Global, conhecida como agência de classificação de risco.

A S&P informou que a gigante chinesa de petróleo e gás CNPC estava impondo uma “barganha difícil” a Moscou, sobre o preço a ser pago pelo abastecimento através do novo gasoduto, projetado para levar o gás russo antes entregue no Norte da Europa.

A consultoria adiantou que, segundo fonte baseada em Pequim e próxima das negociações, o acordo pode ser assinado “durante a visita de Putin à China”. O fato de o governo russo ter confirmado a visita, mas o chinês ainda não tê-lo feito, seria indicação de que a barganha prossegue.

Para Xi, não se trata apenas de conseguir preço melhor. O segundo gasoduto russo reduziria ainda mais a dependência de gás liquefeito (LNG), que é entregue por via marítima, de maior risco diante da crescente presença militar americana e japonesa nos mares da China.

Se confirmada, esta será a segunda ou terceira viagem de Putin ao exterior, após o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por supostas ações na guerra. Ele visitou em abril a região ucraniana incorporada pela Rússia e, dias atrás, o Quirguistão, para a cúpula da Comunidade de Estados Independentes.

Se ainda há incerteza quanto aos próximos passos nas relações comerciais, inclusive quanto aos produtos agropecuários russos, como soja e carne suína, nos vínculos militares os acordos vêm se ampliando —do uso do porto de Vladivostok pela China à presença naval chinesa no Ártico russo.

Embora a atenção global se concentre na presença de Putin, a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) tem significado muito mais amplo para Xi. Nestes dez anos, avalia Christoph Nedopil, professor das universidades Griffith (Austrália) e Fudan (China), o investimento de Pequim foi “impressionante”.

“No início deste ano, a soma acumulada ultrapassou US$ 1 trilhão, na maior parte destinados a transporte, energia e outras infraestruturas tradicionais”, escreveu ele no japonês Nikkei. “Embora não seja perfeitamente comparável, o Banco Mundial investiu US$ 800 bilhões durante os mesmos dez anos.”

A Itália indicou que pode deixar a BRI, mas outros 140 países, em sua grande maioria no Sul Global, são esperados no fórum, que deve evidenciar a evolução histórica do programa chinês na década, em parte como resposta às críticas que recebe do Ocidente desde o princípio.

Na metade do caminho, abandonou projetos de carvão e passou a dar atenção àqueles com padrão ambiental. Também diminuiu sua grandiosidade, priorizando sustentabilidade financeira e mecanismos como a troca de dívida por natureza. Por fim, incorporou empresas privadas como Alibaba e CATL.

Desde 2013, EUA e o G7 lideraram o lançamento de cinco programas concorrentes, por enquanto sem impacto: Blue Dot Network, Build Back Better World, Partnership for Global Infrastructure and Investment, Global Gateway e o recente India-Middle East-Europe Economic Corridor.

Fonte: Folha de São Paulo

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