O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, afirmou nesta segunda-feira (30) que a Parada LGBTQIA+, que levou dezenas de milhares de pessoas às ruas de Budapeste no sábado (28), Dia no Orgulho, foi uma “vergonha”.
“Sou daqueles que não considera o que aconteceu um motivo de orgulho. Digo que foi uma vergonha”, disse Orban em uma entrevista televisiva programada para ir ao ar nesta segunda. Um vídeo com trechos da conversa foi publicado no Facebook.
Uma enorme multidão marchou no fim de semana, desafiando uma lei recente que proíbe essas manifestações e transformando o ato em um dos maiores protestos em anos contra o governo de ultradireita de Orbán, que tenta cercear direitos da comunidade.
Os organizadores do evento dizem que cerca de 200 mil pessoas compareceram —um número que, se confirmado, tornaria o evento um dos maiores protestos da história da Hungria após a queda do comunismo. As autoridades não divulgaram estimativa.
O governo acusou a oposição de incitar “a violação de leis que não respeita, de zombar da soberania da Hungria e, com apoio estrangeiro, de tentar impor a cultura woke” — termo usado de forma pejorativa por conservadores para se referir à agenda de diversidade e igualdade.
O governo de Órban, que está no poder desde 2010, é visto por especialistas em democracia como cada vez mais autoritário, controlando em larga medida a imprensa do país, restringindo a oposição e gradualmente eliminando os direitos de pessoas LGBT+.
Na Hungria, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é ilegal, pessoas LGBT em união estável não podem adotar crianças, e recentemente o governo alterou a Constituição para estabelecer que só existem os gêneros masculino e feminino —eliminando, desta forma, o reconhecimento de pessoas trans.
Além disso, em março deste ano, o Parlamento húngaro também passou uma lei proibindo marchas do orgulho com a justificativa de proteger crianças do que membros do Fidesz, o partido de Orbán, chamam de depravação moral.
O prefeito de Budapeste, Gergely Karacsony, um opositor de Orbán, tentou uma manobra para driblar a proibição da parada ao registrar a marcha como um evento municipal, e não político —entretanto, a polícia manteve a proibição, citando a nova lei de proteção às crianças. A associação homofóbica entre pessoas LGBT+ e pedofilia é antiga e um dos ataques mais comuns à comunidade.
Orbán evitou uma repressão violenta da parada, evitando a produção de imagens que circulassem na imprensa mundial. Ao mesmo tempo, disse na sexta-feira (27) que pessoas que participassem do evento sofreriam as consequências legais —incluindo multas de até € 500 (R$ 3.200) para quem comparecer e um ano na cadeia para os organizadores.
O Ministério das Relações Exteriores da Hungria emitiu um comunicado dizendo que mesmo diplomatas estariam sujeitos às penas da nova lei se participassem da parada. Entre as autoridades estrangeiras presentes estava a comissária da União Europeia para a Igualdade, a política belga Hadja Lahbib.