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Podcast discute mundo com mais velhos e menos crianças – 26/08/2024 – Mundo

A data ainda está distante. Em 2064, o número de nascimentos será igual ao número de mortes. Teoricamente a população do planeta vai parar de crescer. O que significa muitas coisas ao mesmo tempo: as pessoas estarão bem mais velhas, com menor produtividade; os mais jovens não serão numerosos para sustentar um sistema previdenciário do qual os mais velhos estarão dependentes.

São previsões meio grosseiras e mesmo assim alarmistas o suficiente para preocupar os demógrafos. Um grupo deles discutiu o cenário em recente podcast da France Culture, uma das emissoras públicas de rádio da França. Os participantes centraram suas atenções na Europa, América do Norte e sobretudo na Ásia.

Mas, por via das dúvidas, eis os dados do Brasil, recolhidos em 2022 pelo IBGE. As brasileiras estão tendo em média 1,6 filho em seus anos de fertilidade. Não conseguem repor o crescimento demográfico, que pode passar a depender da imigração. E ainda: em 2022 as pessoas viviam em média até 75,5 anos. Essa idade diminuiu em razão da pandemia de coronavírus.

A população brasileira está em rápido envelhecimento. Há 22,2 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, o que representa 10,9% da população. Em 2010 o contingente correspondia a bem menos, 7,4%.

O Brasil traz o embrião dos problemas demográficos do mundo desenvolvido, mesmo não tendo sido abordado pelo podcast francês.

Hervé Boulhol, especialista em aposentadoria na OCDE (grupo de países mais industrializados), afirma que há meio século os efeitos do envelhecimento foram minimizados. Acreditava-se que a população reagiria quando a taxa de fecundidade caísse para abaixo de 1. Isso não aconteceu.

Outros dados que trazem uma boa lição. A Europa e a América do Norte entraram simultaneamente no processo de redução no número de membros das famílias e no paralelo aumento da longevidade. A única diferença entre os dois imensos territórios está na imigração. Enquanto os europeus recebem imigrantes na proporção que repõe o número de óbitos, os Estados Unidos e o Canadá têm historicamente um fluxo mais consistente de pessoas em busca de melhores empregos.

Isabelle Konuma, especialista em Ásia, cita o paradoxo do Japão. As japonesas estão com uma taxa de fecundidade de 0,7 (precisaria ser 2 para repor a população). Mesmo assim, o governo não abre mão do dogma que consiste em manter o país fechado aos imigrantes. Eles existem e são apenas 2 milhões. Mas são politicamente invisíveis. Não se fala deles.

Para não acelerar o declínio econômico, o governo japonês estimulou a mulher ao trabalho. Multiplicou seu contingente de mão de obra, mas, ao trabalharem fora, elas passaram a ter ainda menos filhos.

Outro pacote de problemas mencionado pelos demógrafos é o que diz respeito à Europa Central, que se agregou economicamente à União Europeia após o fim do comunismo e cuja mão de obra passou a circular por países em que era mais bem remunerada.

O exemplo clássico é o da Bulgária. Ela perdeu sua elite de jovens trabalhadores e persiste com um perfil bem mais envelhecido. Com isso, também perdeu o dinamismo econômico e o empreendedorismo mais ousado.

Esse conjunto de exemplos acaba formando as bases de um caldo de cultura autoritário. O russo Vladimir Putin, o chinês Xi Jinping e o húngaro Viktor Orbán tocam na corda do patriotismo para defender a tese de que nenhuma potência militar é irrelevante do ponto de vista demográfico —visão um tanto ultrapassada.

Um último dado curioso se refere a uma pesquisa feita entre os mais jovens da União Europeia. Trata-se de saber qual a razão pela qual muitos deles não querem ter filhos. A principal razão é surpreendente: o aquecimento global. Os jovens não querem produzir crianças que crescerão em temperaturas inóspitas. Só em segundo lugar estão as guerras e conflitos.

Fonte: Folha de São Paulo

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