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Participação da China na Assembleia da ONU será histórica – 15/09/2023 – Igor Patrick

Depois de praticamente ignorar o G20 em Nova Déli, a delegação chinesa chega a Nova York neste fim semana também com uma equipe de menos prestígio. Ao contrário do que seus diplomatas sinalizaram por semanas, o chanceler Wang Yi não vai à Assembleia-Geral da ONU, e a missão chinesa será liderada pelo vice de Xi Jinping, Han Zheng.

Han já ocupou cargos importantes na hierarquia do Partido Comunista. Foi prefeito de Xangai, membro do Comitê Permanente do Politburo ao longo do segundo mandato de Xi, vice-premiê e um dos responsáveis por coordenar politicamente a dura resposta da China continental aos protestos pró-democracia em Hong Kong. Sempre foi visto, porém, como um protegido do ex-líder Jiang Zemin e membro da facção do PC Chinês conhecida como “Gangue de Xangai”.

Será, então, uma participação mais cerimonial que prática.

Han provavelmente não conta com as credenciais, o prestígio e o poder para negociar nada de substancial em nome da China. Sua presença em Nova York mais tem a ver com evitar que Wang Yi receba questionamentos constrangedores acerca da misteriosa remoção do então chanceler Qin Gang e do desaparecimento recente do ministro da Defesa, Li Shangfu, ambos supostamente envolvidos em casos de corrupção e falhas éticas.

Isso não significa, porém, que Pequim ignore a principal reunião do calendário da diplomacia mundial. A Assembleia-Geral da ONU ainda mantém o status de fórum para discutir questões globais prementes e acontece este ano num contexto de guerra na Europa, golpes de Estado na África, endividamento de países em desenvolvimento e a cada vez mais urgente agenda de reversão do aquecimento do planeta.

Vale a pena prestar a atenção em qual será o discurso acerca das três principais bandeiras teóricas da diplomacia chinesa atual: a Iniciativa de Desenvolvimento Global, a Iniciativa de Segurança Global e a Iniciativa de Civilização Global. Os conceitos, codificados em lei pela primeira vez em julho, baseiam-se em uma visão de Xi que deve nortear a forma como Pequim pensa o engajamento com o resto do mundo.

Destacam-se, entre outros temas, a defesa da soberania, da não ingerência em assuntos domésticos, da necessidade de financiamento de países ricos para ações de infraestrutura e resiliência climática em nações em desenvolvimento e da promoção de agendas como o combate à pobreza.

São bandeiras bonitas no papel, mas intencionalmente carentes de substância. Também trazem pontos problemáticos, como a noção de que direitos humanos não são pauta universal e devem estar submetidos aos interesses soberanos de cada país.

As três iniciativas são à primeira vista uma forma de solidificar alianças com o Sul Global e consolidam a China como a líder do mundo em desenvolvimento. É uma estratégia bem calculada para moldar agendas e amplificar a voz chinesa na ONU, articulando um bloco robusto que dê força às aspirações globais dos chineses. Não chega a ser surpresa que sejam recebidas pelo Ocidente como planos revisionistas da ordem global que, embora tenha trazido um período de histórica estabilidade e prosperidade para o mundo, notavelmente beneficiou muito mais os países ricos e desenvolvidos.

A Assembleia-Geral colocará esses conceitos à prova e testará a resposta de outros cantos do mundo à perspectiva chinesa. Junto com a expansão do Brics, o fortalecimento de bancos de desenvolvimento como o AIIB e o NDB e os acordos celebrados à égide da Iniciativa de Cinturão e Rota, ajudam a entender como a China jogará nos próximos anos ou décadas. Com ou sem Wang Yi, são importantes o suficiente para tornar a participação chinesa em 2023 histórica.


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Fonte: Folha de São Paulo

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