O trabalho da FHG (Fundação Humanitária de Gaza), organização recém-criada com o apoio de Israel e Estados Unidos para distribuir alimentos na Faixa de Gaza, é um fracasso do ponto de vista humanitário, afirmou a ONU nesta sexta-feira (13).
“Acho justo dizer que é um fracasso do ponto de vista dos princípios humanitários. Eles não estão fazendo o que uma operação humanitária deveria fazer, que é levar ajuda às pessoas onde elas estão”, disse em Genebra Jens Laerke, porta-voz do Ocha, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
A distribuição de alimentos e produtos básicos em Gaza, sob bloqueio israelense e devastada por mais de 20 meses de guerra, é cada vez mais difícil e perigosa, segundo a ONU —o que agrava ainda mais a situação dos mais de 2 milhões de pessoas que vivem no território palestino.
De acordo com projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, 100% da população em Gaza está em risco de insegurança alimentar, e 470 mil estão em “níveis catastróficos” de fome.
As agências da ONU e as principais organizações humanitárias que trabalham em Gaza se recusam a colaborar com a FHG sob a justificativa de que o funcionamento da entidade é opaco e a distribuição de mantimentos não ocorre de forma equitativa por todo o território.
Desde 26 de maio, quando iniciou suas operações de campo, até quinta-feira, a FHG afirma ter distribuído mais de 18 milhões de refeições. Nos arredores dos centros de ajuda, no entanto, diversos palestinos foram mortos, segundo médicos locais —na maioria dos casos, Israel alega ter disparado tiros de advertência.
O grupo privado atua com apenas quatro pontos de distribuição —quantidade considerada insuficiente para a escassez no território, que passou por um bloqueio de quase três meses imposto por Israel. Sob o sistema de distribuição anterior, coordenado pela ONU, havia cerca de 400 pontos.
Segundo autoridades israelenses, a fundação vai verificar se as famílias atendidas têm envolvimento com o Hamas antes de distribuir a comida, o que violaria princípios humanitários de neutralidade e imparcialidade.
A ONU afirma ainda que o grupo coloca civis em perigo, forçando-os a caminhar por quilômetros para obter alimentos em locais arriscados. Também argumenta que a estratégia pode facilitar o plano israelense de deslocar a população do norte de Gaza, já que todos os pontos de distribuição estão no sul do território.
Laerke reiterou que a ONU está pronta para retomar as operações de ajuda humanitária em larga escala assim que Israel permitir novamente a passagem de um número suficiente de caminhões de ajuda.