A Guarda Revolucionária do Irã reivindicou nesta terça-feira (17) um ataque ao centro de inteligência externa de Israel, o Mossad, em Tel Aviv. Nessa segunda-feira (16), anunciou a execução de um agente do órgão israelense, considerado o serviço secreto do país e um dos mais sofisticados do mundo.
TV estatal divulgou nesta terça-feira (17) comunicado da organização iraniana que reivindica ataque ao Mossad. A Guarda “atacou o centro de inteligência militar do Exército do regime sionista, Aman [Direção de Inteligência Militar], e o centro de planejamento de operações terroristas do regime sionista, o Mossad, em Tel Aviv. Este centro está atualmente em chamas”, diz a nota lida durante uma transmissão da emissora. Israel ainda não se pronunciou sobre o suposto ataque.
Mossad é a agência de inteligência israelense com atuação no exterior, equivalente à CIA, para os EUA. O órgão foi criado em 1949, um ano após a criação do Estado de Israel, e é oficialmente chamado de Instituto para a Inteligência e Operações Especiais.
É considerado um dos serviços secretos mais sofisticados do mundo. Ao lado da Aman e da Shin Bet (agência de inteligência voltada à segurança interna), o Mossad é um dos principais órgãos da Comunidade de Inteligência de Israel.
David Barnea, um ex-soldado de 60 anos, foi nomeado diretor da agência em junho de 2021. No cargo, ele responde diretamente ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Segundo o The Jerusalem Post, Barnea estudou economia e finanças no Instituto de Tecnologia de Nova York. Anos mais tarde, quando voltou a Israel, trabalhou como economista em um banco, se destacando por ter promovido negócios importantes, fusões e aquisições. Sua experiência como investidor o ajudou a abrir empresas fantasmas na Europa e no sudeste asiático, permitindo assim a infiltração de espiões no Irã.
Principal objetivo da agência é recolher informações sobre governos, organizações estrangeiras e indivíduos considerados uma ameaça. Seus espiões, trabalham, portanto, para evitar que inimigos do estado israelense trabalhem no desenvolvimento de armas e possíveis ataques terroristas.
Mossad também é responsável por recrutar espiões, segundo imprensa europeia. Segundo apuração da CNN Portugal, grande parte do trabalho de um oficial do órgão é recrutar outros espiões. Já o jornal O Globo destaca que, além de experiência militar, a agência também busca pessoas com habilidades especiais em computação e linguística.
CAPTURAS HISTÓRICAS
Mossad é envolto em mistério e raramente fala com a mídia. São raros os pronunciamentos públicos de representantes do órgão e a maioria de suas ações não é confirmada nem negada pelas autoridades israelenses. Apesar disso, segundo o jornal israelense The Times of Israel, o Mossad “é lendário nos círculos de inteligência internacionais, por estar por trás do que se acredita serem algumas das operações secretas mais ousadas do século passado”.
Entre as operações do Mossad, a mais visibilizada foi a captura e sequestro do criminoso de guerra nazista Adolf Eichmann. Ele foi pego pela agência na Argentina, em 1960, e foi levado a Israel, onde foi julgado e condenado à pena de morte. Eichmann foi executado no dia 30 de maio de 1962.
Também se especula a contribuição do órgão para os ataques israelenses que mataram lideranças iranianas na última semana. Além disso, são atribuídos ao Mossad assassinatos mais antigos de lideranças estrangeiras, como os de Massoud Ali-Mohammadi, físico nuclear iraniano, em 2010, Imad Mughnyiah, líder do Hezbollah, em 2008; Fathi Shkaki, líder do grupo Jihad Islâmico, em 1995; Abbas Musawi, líder do Hezbollah, em 1992; Wadie Haddad, chefe do braço armado da Frente Popular pela Libertação da Palestina, em 1978.
Agentes do órgão utilizam métodos de disfarce para dificultar identificação. Segundo apuração da BBC, os funcionários usam, entre outros recursos de espionagem, telefones celulares por satélites e pagam suas despesas com dinheiro vivo.
Mossad possui ligação com outros serviços de inteligência. Conforme divulgado pela Al Jazeera, o órgão mantém ligações organizacionais formais com vários centros de inteligência árabes, além de ter um centro regional para as suas operações no Oriente Médio, em Amã, capital da Jordânia.
REPUTAÇÃO QUESTIONADA
Reputação do órgão foi questionada ao longo dos anos, tanto no próprio país como no exterior. Isso se deve a alguns fracassos do serviço, como em 2010, quando Mahmoud al-Mabhouh, um importante agente do Hamas, foi morto em um quarto de hotel em Dubai, em uma operação atribuída ao Mossad, mas nunca reconhecida por Israel. O caso chamou a atenção internacional porque os supostos assassinos flagrados pelas câmeras foram acusados de usar passaportes falsos.
Operações supostamente clandestinas. Ainda segundo a Al Jazeera, no Mossad, a tomada de decisão para o assassinato de qualquer alvo não requer restrições legais semelhantes às seguidas pela CIA, por exemplo, que envolve, entre outras exigências, autorização do presidente dos EUA.
Nova Zelândia cortou brevemente os laços com Israel em 2004. Isso ocorreu depois de o estado nórdico capturar dois israelenses suspeitos de serem agentes do Mossad que tentavam adquirir o passaporte neozelandês de maneira ilegal.
Antigo diretor do Mossad renunciou após episódio de envenenamento atribuído ao órgão. Outra ação da agência repudiada internacionalmente ocorreu em 1997. Na ocasião, agentes tentaram assassinar o então chefe do Hamas, Khaled Mashaal, em Amã, na Jordânia. Eles o envenenaram, mas foram capturados pouco depois. Com isso, o então rei da Jordânia, Hussein, ameaçou anular um acordo de paz se Mashaal morresse. Pressionado, Israel despachou um antídoto que salvou sua vida, e os agentes israelenses retornaram para casa. Depois disso, o então chefe do Mossad, Danny Yatom, renunciou.