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Novo papa tem raízes crioulas em Nova Orleans – 09/05/2025 – Mundo

Robert Francis Prevost, cardeal nascido em Chicago e eleito novo papa nesta quinta-feira (8), tem ascendência creole de Nova Orleans, uma tradicional comunidade do sul dos Estados Unidos com raízes culturais diversas.

Os avós maternos do papa, ambos descritos como negros ou mulatos em vários registros históricos, viviam no 7º distrito da cidade, uma área tradicionalmente católica e um caldeirão de pessoas com raízes africanas, caribenhas e europeias.

Os avós, Joseph Martinez e Louise Baquié, eventualmente mudaram-se para Chicago no início do século 20 e tiveram uma filha: Mildred Martinez, a mãe do papa.

A descoberta significa que Leão 14, como já é conhecido o papa, não está apenas abrindo caminho como o primeiro pontífice nascido nos EUA. Ele também vem de uma família que reflete os muitos fios que compõem o tecido social da complicada história americana.

A origem do papa foi descoberta na quinta por um genealogista de Nova Orleans, Jari Honora, e confirmada ao The New York Times pelo irmão mais velho de Leão 14, John Prevost, 71, que vive nos subúrbios de Chicago.

“Esta descoberta é apenas um lembrete adicional de como estamos entrelaçados como americanos”, disse Honora em uma mensagem de texto na noite de quinta. “Espero que isso destaque a longa história dos católicos negros, tanto livres quanto escravizados, neste país, que inclui a família do santo padre.”

Não está claro se o novo papa já abordou sua ancestralidade creole em público, e seu irmão disse que a família não se identificava como negra. O anúncio da eleição de Prevost em Roma se concentrou em sua vida inicial em Chicago e décadas de serviço no Peru.

Honora, que trabalha na Historic New Orleans Collection, um museu no Bairro Francês, começou a investigar a origem do papa por causa de seu sobrenome de sonoridade francesa, Prevost, mas rapidamente encontrou conexões com o sul americano.

A trilha de evidências que liga Leão 14 a Nova Orleans inclui a certidão de casamento de seus avós, datada de 1887 no 7º Distrito, uma foto do túmulo da família Martinez em Chicago e um registro eletrônico de Mildred Martinez que aponta sua origem na cidade em 1912.

O registro de nascimento lista Joseph Martinez e “Louis Baquiex” como pais de Mildred. O local de nascimento do pai é listado como República Dominicana; o da mãe, Nova Orleans.

Honora também encontrou registros do Censo de 1900 —levantamento populacional oficial— que listam Joseph Martinez como negro, seu local de nascimento como Haiti e sua ocupação como fabricante de charutos.

Os detalhes de Martinez aparecem na sexta linha de uma página do censo que Honora compartilhou com o New York Times. “Tanto Joseph Norval Martinez quanto Louise Baquié eram pessoas negras, sem dúvida”, disse Honora.

O local exato de nascimento de Joseph Martinez continua sendo um mistério. Honora também encontrou um registro do Censo de 1870 que diz que o avô materno do papa nasceu na Louisiana (estado onde fica Nova Orelans). Mas ele disse que não era incomum que as pessoas mudassem suas respostas em registros oficiais.

Joseph Martinez e Louise Baquié se casaram na Igreja de Nossa Senhora do Sagrado Coração em Nova Orleans. Até ser destruído por um furacão em 1915, o prédio da igreja ficava na rua Annette, no 7º distrito da cidade, um centro histórico da cultura afro-creole.

Os creoles têm uma história quase tão antiga quanto a Louisiana. Embora a palavra creole possa se referir a pessoas de ascendência europeia que nasceram nas Américas, comumente descreve pessoas mestiças.

Muitos creoles da Louisiana eram conhecidos nos séculos 18 e 19 como “gens de couleur libres”, ou pessoas livres de cor. Muitos tinham recebido educação formal, falavam francês e eram católicos.

Ao longo das décadas, eles estabeleceram uma posição nos negócios, na construção civil e nas artes, particularmente na música, com contribuições significativas para o desenvolvimento do jazz. Eles continuam sendo uma vertente importante na cultura famosamente heterogênea de Nova Orelans.

A revelação da herança do novo papa é um momento tremendo para a história dos creoles da Louisiana, disse Lolita Villavasso Cherrie, cofundadora com Honora da Associação Genealógica e Histórica Creole.

“Odeio dizer isso, mas sentimos, muitos de nós, que nossa história foi escondida de nós”, disse Cherrie, 79, professora aposentada. Em parte, disse ela, isso ocorre porque muitos creoles conseguiram “passar por brancos” ao longo dos anos.

Foi apenas com o advento da internet, disse ela, que muitas pessoas começaram a pesquisar sua história familiar e tomaram conhecimento de suas raízes creoles. Ela observou que um número significativo de creoles da Louisiana migrou para a área de Chicago no século 20.

John Prevost, o irmão do papa, disse que seus avós paternos eram da França e que seu pai havia nascido nos Estados Unidos. Ele disse que ele e seus irmãos não discutiam suas raízes creoles. “Nunca foi um problema”, disse John Prevost.

O que tudo isso significa, quando se trata da identidade racial do papa, toca em algumas das questões mais espinhosas da sociedade americana, mas também reflete a rica diversidade da experiência americana.

“Estamos todos a apenas alguns graus (ou menos que alguns graus) de distância uns dos outros”, disse Honora.

Fonte: Folha de São Paulo

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