Após anos de investigação, o musicólogo espanhol David Catalunya encontrou o órgão da Basílica da Natividade, de Belém, localizada em Israel, construído na época das Cruzadas e considerado por muitos historiadores o mais antigo da tradição ocidental.
Segundo as suas investigações, que tiveram início há quase uma década, quando Catalunya atuava como pesquisador na Universidade de Oxford -na época, ele encontrou um documento que mencionava o instrumento musical, que teria sido descoberto em Israel no início do século XX-, o órgão teria sido levado da Europa para Jerusalém, onde teria servido à liturgia por cerca de um século.
As pesquisas do musicólogo envolveram uma extensa troca de emails e uma conversa por vídeo com um frade franciscano da Custódia da Terra Santa, de Jerusalém, fraternidade católica que administra a preservação dos locais e relíquias cristãs da região.
Acompanhado por frades que aceitaram o receber, Catalunya foi conduzido por um labirinto do convento de São Salvador, sede da Custódia da Terra Santa, até uma sala em que se encontravam, em um velho baú e protegidos por tecidos, diversos tubos de cobre que se encaixavam na descrição previamente enviada.
“Após a invasão muçulmana do século XII, liderada por Saladino, [o órgão] foi desmontado e ocultado para protegê-lo da destruição”, afirma o musicólogo ao El País. “O instrumento pertence a um período de uma efervescência cultural e política verdadeiramente apaixonante. E foi nesta época que o órgão se converteu em um elemento identitário da cristandade latina.”
O pesquisador diz ainda que a busca pelo instrumento surgiu inicialmente com o objetivo de produzir uma réplica capaz de reproduzir os sons do órgão. “Nossa maior surpresa foi descobrir que alguns desses tubos, que têm quase mil anos de antiguidade, continuam soando como se tivessem sido fabricados ontem”, diz Catalunya ao veículo espanhol.
“Pela primeira vez na história moderna podemos escutar um som musical medieval sem passar por uma recriação, o mesmíssimo som que os cruzados escutaram”, acrescenta ele. “É uma janela para o passado única no mundo”.
