As Forças Armadas de Israel mataram pelo menos 50 pessoas e deixaram outras 200 feridas na Faixa de Gaza nesta segunda-feira (16), de acordo com o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas. Segundo médicos que trabalham no território, dos 50 palestinos mortos, cerca de metade foi baleada por soldados israelenses enquanto tentava receber comida —uma cena que virou rotina desde o fim do bloqueio total em maio.
Mais uma vez, o tiroteio aconteceu durante entrega de suprimentos pela Fundação Humanitária de Gaza (FHG), uma organização apoiada pelos Estados Unidos e por Israel que agora é a única instituição com permissão de Tel Aviv para operar a entrega de ajuda aos palestinos de Gaza.
A ONU e outras organizações se recusam a cooperar com a FHG, dizendo que ela atua de forma parcial e fere princípios básicos do trabalho humanitário —agências da ONU dizem ter centenas de caminhões de prontidão para distribuir comida em Gaza, mas Israel barra sua entrada.
De acordo com o Ocha (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, na sigla em inglês), entre o fim do bloqueio total de Israel em 18 de maio e o dia 11 de junho, entre 320 e 340 palestinos foram mortos enquanto buscavam comida em centros de distribuição da FHG, e outros 1.800 tiveram ferimentos graves.
Israel não comentou as mortes desta segunda, mas disse em casos anteriores que palestinos se aproximaram de soldados sem permissão, ou que os tiros disparados foram de advertência, ou que o Hamas tenta se infiltrar entre civis que buscam comida.
A FHG opera em três pontos de distribuição em Gaza com proteção direta de soldados de Israel, uma medida que a ONU chama de inadequada e perigosa. A fundação disse na segunda que já distribuiu mais de 3 milhões de refeições sem incidentes.
“Fomos até lá achando que conseguiríamos comida para alimentar nossas crianças, mas era uma armadilha, uma matança. Eu digo para todo mundo que conheço: não vão até lá”, disse à agência de notícias Reuters o palestino Ahmed Fayad, que sobreviveu ao tiroteio da segunda.
O chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, disse em um comunicado que “dezenas de pessoas foram mortas e feridas nos últimos idas, incluindo pessoas famintas tentando conseguir comida em um sistema de distribuição letal“.
Antes da criação da FHG e da imposição do novo sistema por Israel, suprimentos como comida, combustível e remédios eram entregues aos palestinos principalmente pela ONU, que emprega milhares de pessoas dentro de Gaza e tem centenas de pontos de distribuição no território. Israel diz que o trabalho da ONU permitia que o Hamas desviasse comida, o que o grupo terrorista nega.
Desde o início do conflito atual em Gaza, desencadeado pelo ataque terrorista de 7 de outubro, quase 55 mil palestinos foram mortos por bombardeios israelenses. Segundo a ONU, todos os 2 milhões de pessoas no território estão em insegurança alimentar, e muitos enfrentam a fome. Com os ataques de Israel contra o Irã, o governo do premiê Binyamin Netanyahu disse que Gaza é agora um “front secundário” da guerra.