Uma grande manifestação em Jerusalém marcando a captura da parte oriental da cidade por Israel na Guerra dos Seis Dias (1967) transformou locais da Cidade Velha em cenário de caos nesta segunda-feira (26).
Grupos judeus extremistas confrontaram e agrediram palestinos, outros ativistas israelenses e jornalistas, segundo a agência Reuters, citando testemunhas. A imprensa local, como os jornais The Times of Israel e Haaretz mostram vídeos de choques entre polícia e manifestantes, além de detenções pontuais.
A chamada marcha da bandeira atraiu milhares de pessoas cantando, dançando e agitando bandeiras israelenses pouco depois que o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, visitou o complexo da mesquita de Al-Aqsa, ponto perene de tensão entre israelenses e palestinos.
Sob um acordo feito ainda na década de 1960, o complexo da mesquita, local onde também se encontra o Monte do Templo, sagrado para os judeus, é administrado por um fundo islâmico jordaniano. Judeus podem visitar, mas não rezar no local.
Ben-Gvir, um dos integrantes com posições mais extremistas do governo de ultradireita de Binyamin Netanyahu, dançou e agitou bandeiras em palco montado para as celebrações na Grande Sinagoga de Jerusalém, próxima mas fora da Cidade Velha.
O ministro exaltou ações para a tomada da Faixa de Gaza e defeendeu a pena de morte para terroristas —participantes do evento gritavam slogans nacionalistas e “morte aos árabes”, algo que Ben-Gvir rejeitou.
“Eu digo ao primeiro-ministro, nós não podemos dar a eles ajuda humanitária, não podemos dar a eles combustível. Nossos inimigos merecem apenas uma bala na cabeça”, afirmou o ministro durante o evento.
Um grupo nacionalista levantou bandeiras em que se lia “sem vitória sem a nakba”, termo árabe para “catástrofe” ou “desastre” que identifica o deslocamento forçado de palestinos no fim da década de 1940 na região. Outra bandeira dizia “1967, Jerusalém em nossas mãos — 2025, Gaza em nossas mãos”.
A violência eclodiu na Cidade Velha murada de Jerusalém Oriental pouco depois do meio-dia, segundo uma testemunha afirmou à Reuters, quando jovens manifestantes começaram a hostilizar os poucos comerciantes palestinos que ainda não haviam fechado suas lojas antes da manifestação.
Os manifestantes, principalmente jovens israelenses que vivem em assentamentos na Cisjordânia ocupada, começaram então a atacar ativistas israelenses de esquerda e jornalistas que observavam o protesto.
Uma mulher palestina e jornalistas foram alvo de cusparadas por parte de um grupo de jovens colonos. Autoridades policiais não responderam a um pedido de comentário da agência de notícias.
Moshe, um colono israelense de 35 anos da Cisjordânia e apoiador do atual governo de ultradireita, caminhou por um bairro palestino da Cidade Velha com um rifle a tiracolo e sua filha nos ombros. Era um “dia muito feliz” porque toda Jerusalém estava “sob o governo de Israel”, disse ele, recusando-se a fornecer um sobrenome.
O líder da oposição de esquerda, Yair Golan, ex-vice-comandante das Forças Armadas de Israel, descreveu as imagens de violência como chocantes. “Isso não se parece com amar Jerusalém. O que isso parece é ódio, racismo e intimidação”, afirmou Golan em comunicado.
Já Netanyahu disse que seu governo manteria “Jerusalém unida, inteira e sob soberania israelense”, durante reunião de gabinete realizada em Jerusalém Oriental mais cedo.
Um porta-voz da Presidência palestina baseado na Cisjordânia condenou a marcha. A guerra em curso de Israel em Gaza, “incursões repetidas no complexo da mesquita de Al-Aqsa e atos provocativos como hastear a bandeira israelense em Jerusalém ocupada ameaçam a estabilidade de toda a região”, disse Nabil Abu Rudeineh, em um comunicado.
Confrontos eclodiram ao longo do dia enquanto ativistas israelenses de esquerda intervieram para escoltar palestinos para longe de jovens judeus extremistas que ameaçavam transeuntes, segundo testemunhas.
A manifestação anual frequentemente provoca tensão quando judeus ultranacionalistas marcham em áreas palestinas da Cidade Velha a caminho do Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados do judaísmo, na divisa com o complexo da mesquita.
Israel capturou Jerusalém Oriental, incluindo a Cidade Velha, da Jordânia na guerra de 1967. Os palestinos defendem que Jerusalém Oriental seja a capital de um eventual Estado palestino que incluiria a Cisjordânia e Gaza.
A maioria dos países considera Jerusalém Oriental como território ocupado e não reconhece a soberania israelense no local; Israel considera Jerusalém como sua capital indivisível.