Jornalista Eliane Cantanhêde:
“Além de agir como se o mundo, o Brasil e ele próprio fossem os mesmos do primeiro e do segundo mandatos, o presidente Lula parece ter a ilusão de que, assim como superou o escândalo do mensalão e se reelegeu em 2006, vai dar a volta por cima da montanha de problemas atuais e conquistar o quarto mandato em 2026, vinte anos depois. As pesquisas, a realidade e o Congresso mostram que não será fácil.
O mundo empurrou a ONU para o seu ocaso e trouxe à tona Trump, Netanyahu, Putin e agora o aiatolá Ali Khamenei, com o norte coreano Kim Jong-un à espreita. Há dúvidas sobre o estágio atual do programa nuclear do Irã, mas todos os demais têm a bomba atômica —além de personalidades tirânicas e imperialistas. Lula, que teve seus 15 minutos de glória nos primeiros mandatos, virou pó nessa nova realidade.
O Brasil também não é o mesmo, com o avanço espantoso do crime organizado, um Congresso raso, sem líderes, bases, propostas e compromissos, em meio a uma polarização entre Lula e Bolsonaro que nada tem a ver com PT versus PSDB – o original, não este fantasma que não assusta, nem anima, mais ninguém.
E a economia mundial foi sacudida pelas guerras, a tecnologia, o efeito Trump e a ausência de organismos de mediação. Governante que pensa a economia com a cabeça de duas décadas atrás e acha que populismo e gastança bastam para se reeleger tende a dar com os burros n’água.