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Lula nega que Brics queira ser contraponto ao G7 – 22/08/2023 – Mundo

O presidente Lula (PT) negou nesta terça-feira (22) que o Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, busque servir de alternativa ao G7 —o grupo dos países industrializados, liderado pelos Estados Unidos.

“A gente não quer ser contraponto ao G7 ou ao G20, nem aos Estados Unidos. A gente quer se organizar. A gente quer criar uma coisa que nunca teve, que nunca existiu. O Sul Global… Nós sempre fomos tratados como se fôssemos a parte pobre do planeta, como se não existíssemos. Nós sempre fomos tratados como se fôssemos de segunda categoria. E de repente a gente está percebendo que podemos nos transformar em países importantes”, declarou o presidente em transmissão nas redes sociais.

Lula argumentou que os integrantes do Brics respondem hoje por cerca de um terço do PIB mundial e por fatia semelhante do comércio internacional. Afirmou ainda que o bloco precisa ser forte e ter recursos para tentar mudar “as relações no mundo”, referência à tentativa histórica da diplomacia brasileira de reformar as instituições de governança global.

Lula citou em mais de uma ocasião o Conselho de Segurança da ONU. Hoje os únicos membros com poder de veto no órgão mais importante da organização multilateral são EUA, Reino Unido, França, Rússia e China. “Por que o Brasil, a Índia e a África do Sul não podem entrar? Por que não pode entrar a Alemanha? Quem é que disse que são os mesmos países colocados lá em 1945 que continuam lá? O mundo mudou, a política mudou e nós queremos essa mudança”, afirmou Lula. “O Brics significa isso. O Brics não significa tirar nada de ninguém. Significa uma organização de um polo muito forte, que congrega muita gente”.

As falas do petista sobre o Brics ocorrem em meio à cúpula do grupo em Joanesburgo esta semana, marcada por debates sobre sua ampliação. A China, maior economia do grupo, defende ampla expansão. Segundo interlocutores, Pequim quer “escancarar as portas” e admitir de uma vez duas dezenas de países.

A África do Sul tem visão similar à chinesa, segundo disse o presidente Cyril Ramaphosa. “Mudanças ocorridas nos países que compõem o Brics na última década transformaram a economia global”, afirmou ele, acrescentando que o interesse manifestado por outras nações para participar do grupo “mostra que a família Brics está crescendo em importância, estatura e influência no mundo”.

A Rússia também é a favor da estratégia, uma forma de romper o isolamento diplomático que enfrenta desde o início da Guerra da Ucrânia. A hipótese é, porém, rechaçada por Brasil e Índia, uma vez que esse desenho poderia ser encarado como uma aliança anti-Ocidente e antagonista aos Estados Unidos e ao G7.

A Índia tem enviado sinais de que aceita discutir a entrada regulamentada de alguns candidatos. Já o Brasil, antes frontalmente contra a expansão, flexibilizou sua posição e agora argumenta que um crescimento controlado não é ruim para os interesses do país. Também na terça, Lula disse ser favorável à ampliação, mas novamente defendeu a adoção de critérios e procedimentos.

Ele citou Argentina e Indonésia como dois países que, segundo ele, deveriam ser admitidos. “[O Brics] não pode ser um clube fechado. O G7 é um clube fechado. Mesmo quando o Brasil chegou a ser a sexta economia do mundo, a gente participava como convidado. O G7 é o clube dos ricos”, disse.

Membros da comitiva brasileira em Joanesburgo fizeram coro a seu posicionamento. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), defendeu que o bloco não deve fazer “nenhum tipo de antagonismo a outros fóruns importantes” no cenário internacional. “Acreditamos que o Brics tem grande contribuição a dar. Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia podem, cada um a partir de sua perspectiva, oferecer ao mundo uma visão que seja coerente com seus propósitos”, disse.

Enquanto isso, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, reforçou a mudança no cenário global que o interesse pela ampliação do Brics representa. “Acho que todo o interesse que existe na expansão, países que desejam ser parceiros ou membros plenos do Brics, demonstra que há uma nova força no mundo. O mundo não pode ser mais visto como o ditado pelo G7”, declarou.

Lula ainda aproveitou a ocasião para voltar a criticar a dependência do dólar no comércio internacional. Ele disse que esse é um dos temas em discussão no Brics e sugeriu a criação de uma “moeda de comércio exterior”. “Nós defendemos a questão de uma unidade de referência —na verdade é uma moeda— que seja referência para fazer negócios, para que você não precise de uma moeda de outro país”, afirmou o brasileiro.

“Por que eu preciso ter dólar para fazer negócios com a China? O Brasil e a China têm tamanho suficiente para fazer negócios nas suas moedas ou em outra unidade?”, questionou. “A gente não pode depender de um único país que tem o dólar. E nós somos obrigados a ficar vivendo da flutuação dessa moeda. Não é correto.” A defesa de mecanismos de desdolarização é uma constante na retórica de Lula, mas o projeto é encarado com ceticismo por analistas e por alas de dentro do próprio governo.

Em fala gravada, transmitida durante o fórum, o presidente russo, Vladimir Putin, também mencionou a diminuição da dependência do dólar no comércio internacional, em meio a críticas contra o que chamou de práticas de sanção ilegítimas.

“O objetivo e irreversível processo de desdolarização dos nossos laços econômicos está ganhando ímpeto”, afirmou. O líder não compareceu à cúpula do Brics devido ao mandado de prisão emitido contra ele pelo TPI (Tribunal Penal Internacional). A África do Sul, anfitriã do evento, é signatária do tratado que criou a corte, e em tese estaria obrigada a prender o russo caso ele pisasse em seu solo.

Fonte: Folha de São Paulo

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