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Livro examina o papel ingrato das primeiras-damas nos EUA – 13/03/2024 – Lúcia Guimarães

A pior primeira-dama da história moderna americana poderá ser lembrada também como a mais transformadora. Melania Trump, nascida Knauss, a eslovaca com um passado, digamos, original ao emigrar para os EUA com visto de turista para posar como modelo, é gananciosa, vulgar e preguiçosa.

Mas sem o desprezo de Melania pela tradição desse serviço público não remunerado, a atual primeira-dama Jill Biden talvez não pudesse ter feito o que suas antecessoras não ousaram: mantido o emprego numa faculdade estadual a 28 km da Casa Branca. O salário da professora de inglês casada há 47 anos com Joe Biden é pago por uma ONG para evitar uso de dinheiro público.

A história de como Jill Biden venceu a resistência do marido e seus assessores e continuou a dar aulas dois dias por semana sem despertar indignação sensacionalista é contada num novo livro sobre primeiras-damas, escrito pela jornalista Katie Rogers, do New York Times, com o título de “American Woman: The Transformation of the Modern First Lady, from Hillary Clinton to Jill Biden (mulher americana: a transformação da primeira-dama moderna, de Hillary Clinton a Jill Biden).

O livro é recheado de anedotas sobre as ocupantes desse cargo que não é confirmado nas urnas, pouco mudou com a evolução do papel social das mulheres e é marcado por enorme pressão para não violar tradições. Mas que tradições? O Poder Executivo do presidente está definido pela Constituição, que nem menciona a figura da primeira-dama.

A autora do livro conta que Melania Trump só pisou duas vezes no escritório de trabalho designado para as primeiras-damas, na ala leste da Casa Branca, que ela transformou em sala para embrulhar presentes. Outra sala foi separada para acumular presentes para eventual redistribuição. E um terceiro escritório virou salão de beleza. Katie Rogers revela que Melania usou outra sala em reuniões com advogados para renegociar o acordo pré-nupcial feito com o marido, casado três vezes.

Embora Jill Biden tenha experiência de décadas como esposa de um senador e depois vice-presidente, ela não devia contar com o menor escrutínio resultante da avacalhação promovida por Melania, que adorava as mordomias da posição, a barreira protetora de musculosos agentes do Serviço Secreto, mas era ouvida reclamando de tarefas que, afinal, ignorava.

Talvez a mais realizada das primeiras-damas examinadas no livro seja Michelle Obama, que odeia política, era contra a candidatura de Barack, e hoje não para de ouvir súplicas para se candidatar a presidente. Ela escreveu dois best-sellers globais, montou uma produtora com o marido e é produtora executiva de “Rustin”, cinebiografia cujo protagonista Colman Domingo foi indicado para um Oscar este ano.

O caso mais trágico há de ser o de Hillary Clinton, cuja derrota para Donald Trump, em 2016, tem várias impressões digitais, de Moscou ao ex-diretor do FBI James Comey, um pavão que fez um circo do caso do servidor privado dos e-mails da então secretária de Estado.

No livro, Hillary confessa à autora que, se soubesse o quanto seria polarizador seu papel à frente da fracassada força tarefa para a reforma do seguro-saúde, em 1992, ela teria agido nos bastidores, sem protagonismo. Naquele ano, uma amiga especialista em saúde pública, que se reunia regularmente com a mulher de Bill Clinton, disse a esta colunista: “o poder intelectual de Hillary Clinton é formidável”.


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Fonte: Folha de São Paulo

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