Nova Jersey é um dos doze estados que não exigem que os pais informem oficialmente qualquer órgão governamental sobre a intenção de educar os filhos em casa. Os responsáveis são obrigados a fornecer educação equivalente. A omissão pode ser punida com a infração de desordem pública. Mas ninguém do estado verifica os casos.
Brenda Spencer contou à polícia que havia desistido de educar a filha mais velha depois de uma semana. Em um interrogatório policial, a irmã mais nova da menina não se lembrava de nenhuma aula.
— Temo que casos como esse se tornem mais comuns — confessou MacAulay, porque as pessoas abusadoras “verão como é fácil esconder esses crimes”.
Em março, a polícia prendeu uma mulher de Connecticut que, segundo ela, havia aprisionado o enteado em casa por 20 anos, após ele ter sido transferido para o ensino domiciliar aos 12 anos. O garoto, então com 32 anos, escapou após atear fogo em seu quarto para ser resgatado pelos bombeiros. O estado também não impõe requisitos de check-in para alunos que estudam em casa.
Liberdade
No dia 8 de maio, na noite em que a menina fugiu, ela deveria limpar excrementos de cachorro do porão, uma de suas tarefas diárias. Em vez disso, andou em círculos, cantando. Quando a mãe a confrontou, ela correu para a porta da frente. Seu padrasto ameaçou “quebrar a perna dela”, ela contou à polícia. Sua mãe disse apenas duas palavras: “Tchau, vadia”.
A jovem correu, descalça, até a porta de Lacey, onde tantas vezes havia recuperado os pacotes de ração para cachorro. O filho da vizinha, Michael Lacey, um limpador de piscinas de 36 anos, emprestou-lhe os sapatos da filha e passou as horas seguintes ligando para abrigos para moradores de rua e mulheres em crise, tentando encontrar alguém para ajudá-la, disse ele em uma entrevista. Todos disseram que estavam lotados.
Em seguida, ele chamou a polícia, que o encontrou com a garota em uma loja de conveniência próxima. Mas, segundo o chefe Harkins, ela não revelou o abuso quando falaram com ela lá, dizendo apenas que havia brigado com os pais. Os policiais foram embora.
Naquela primeira noite de liberdade, a menina dormiu no carro de Michael. Com medo de que os vizinhos viessem procurá-la na casa da mãe, ele a trancou para sua própria segurança, ligou o alarme do carro e deu a ela o celular para que ela pudesse ouvir música.
No dia seguinte, a levou ao Hospital Jefferson Stratford, onde ela começou a descrever o que havia acontecido. Um dia depois, a polícia executou um mandado de busca em sua casa. Sua mãe e seu padrasto foram presos em 11 de maio. A polícia disse que as meninas agora estão “em locais seguros”, mas se recusou a fornecer mais detalhes.
— Depois que descobri que tudo o que ela me dizia era verdade, desabei — disse Lacey mais tarde.