Em uma cena que suscitou críticas e acusações de ataque à liberdade de expressão, o jornalista americano Sam Husseini foi arrastado para fora da sala onde o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, realizava sua última entrevista coletiva no cargo.
Husseini e outros jornalistas independentes críticos do apoio americano a Israel interromperam Blinken repetidas vezes ao longo da entrevista coletiva, que tinha como tema as ações do chefe da diplomacia dos EUA em relação à guerra na Faixa de Gaza.
Depois que Blinken se recusou a responder as perguntas de Husseini, o jornalista seguiu interrompendo as falas do secretário até que seguranças o arrastaram para fora da sala. Ao ser carregado, Husseini gritou: “Criminoso! Por que você não está em Haia?“. A cidade holandesa é a sede do Tribunal Penal Internacional, responsável por julgar criminosos de guerra.
O governo Joe Biden, que chega ao fim na próxima segunda (20), provavelmente será lembrado na área de política externa pelo apoio inquebrantável a Israel durante todo o conflito em Gaza —mesmo quando as mortes de palestinos em bombardeios israelenses atingiram as dezenas de milhares e quando países como a África do Sul e entidades como a Anistia Internacional acusaram Tel Aviv de cometer genocídio.
O governo Biden atuou como fiador diplomático e militar de Israel em várias ocasiões desde 7 de outubro de 2023, enviando forte aparato militar para a região, incluindo o maior porta-aviões do mundo, aprovando bilhões de dólares em auxílio militar e envio de armas, e obstruindo votações na ONU que pediam um cessar-fogo.
Max Blumenthal, outro jornalista crítico da política externa de Washington, perguntou a Blinken: “por que você continuou a enviar bombas se havia um acordo [de cessar-fogo] em maio?”.
A pergunta fazia referência ao fato de que o cessar-fogo anunciado nesta quarta (15) é quase idêntico ao apresentado a Israel em maio de 2024. Críticos acusam Biden e Blinken de não utilizar a pressão considerável que Washington pode exercer sobre Tel Aviv para pressionar o premiê Binyamin Netanyahu a aceitar o acordo na época. Blumenthal também foi expulso da sala.
Depois que os jornalistas foram removidos, Blinken respondeu perguntas de outros repórteres na entrevista. Questionado se faria algo de diferente nas suas negociações com Israel, o secretário de Estado disse que o país aliado fez o que sua população queria que fizesse “depois do trauma do 7 de outubro”, e que os EUA não poderiam ignorar isso.
Blinken também disse que o governo Biden não foi capaz de determinar se ações de Israel constituem violações da lei internacional porque o Hamas “se imiscui entra a população civil”. Especialistas dizem repetidamente que essa conduta do grupo terrorista não exime as Forças Armadas israelenses de agir de forma a minimizar mortes de civis e danos à infraestrutura civil.
“Além disso, há centenas de casos sendo investigados em Israel”, concluiu Blinken. “Eles têm procedimentos, lá impera o estado de direito. É isso que define uma democracia.”