O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse nesta quarta-feira (4) que abandonar o enriquecimento de urânio é “100% contra nossos interesses”, rejeitando uma exigência central dos EUA nas negociações para resolver uma disputa de décadas sobre as ambições nucleares de Teerã.
A proposta dos EUA para um novo acordo foi apresentada a Teerã no sábado (31) por Omã, que mediou conversas entre o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, e o enviado do presidente Donald Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff.
Após cinco rodadas de negociações, várias questões difíceis de superar permanecem, incluindo a insistência do Irã em manter o enriquecimento de urânio em seu território e a recusa em enviar para o exterior todo o seu estoque existente de urânio altamente enriquecido —possível matéria-prima para bombas nucleares.
Khamenei, que tem a palavra final em todos os assuntos de Estado, não disse nada sobre interromper as negociações, mas afirmou que a proposta dos EUA “contradiz a crença de nossa nação na autossuficiência e o princípio de ‘Nós Podemos'”.
“O enriquecimento de urânio é a chave para nosso programa nuclear e os inimigos se concentram no enriquecimento”, disse Khamenei durante um discurso televisionado que marcava o aniversário da morte do fundador da República Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini.
“A proposta que os americanos apresentaram é 100% contra nossos interesses. Os líderes rudes e arrogantes da América exigem repetidamente que não devemos ter um programa nuclear. Quem são vocês para decidirem se o Irã deve ter enriquecimento?”, declarou.
Teerã diz que quer dominar a tecnologia nuclear para fins pacíficos e há muito nega as acusações das potências ocidentais de que está buscando desenvolver armas nucleares.
‘Pressão máxima’
Na segunda-feira (2), a Reuters informou que Teerã estava prestes a rejeitar a proposta dos EUA, considerada inviável. Trump reviveu sua campanha de “pressão máxima” contra Teerã desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, que incluiu o endurecimento das sanções e a ameaça de bombardear o Irã se as negociações não resultarem em um acordo.
O presidente americano quer limitar o potencial de Teerã para produzir uma arma nuclear que poderia desencadear uma corrida armamentista nuclear regional e talvez ameaçar Israel.
Durante seu primeiro mandato, Trump abandonou o pacto nuclear de Teerã de 2015 com seis potências e reimpôs sanções que paralisaram a economia do Irã. O Irã respondeu intensificando o enriquecimento muito além dos limites do pacto.
O regime teocrático tem lidado com múltiplas crises —escassez de energia e água, desvalorização da moeda, perdas entre milícias regionais aliadas em conflitos com Israel e crescentes temores de um ataque israelense a seus locais nucleares —, tudo intensificado pela posição mais dura de Trump.
Israel, arqui-inimigo do Irã e que vê o programa nuclear do país persa como uma ameaça existencial, ameaçou repetidamente bombardear as instalações nucleares da República Islâmica para impedir que Teerã adquira armas nucleares.