Um júri federal dos Estados Unidos determinou nesta segunda-feira (24) o pagamento de US$ 500 mil à viúva e aos herdeiros de um policial que se suicidou nove dias após atuar na defesa do Capitólio durante a invasão de 6 de janeiro de 2021.
O quiropraxista David Walls-Kaufman, 69, foi condenado a pagar US$ 380 mil em danos punitivos e outros US$ 60 mil em danos compensatórios a Erin Smith, viúva do policial metropolitano Jeffrey Smith. O júri também concedeu mais US$ 60 mil aos herdeiros do agente, como compensação por sofrimento físico e emocional.
A juíza que conduziu o julgamento civil havia rejeitado anteriormente a acusação de homicídio culposo apresentada por Erin Smith contra Walls-Kaufman. Segundo Ana Reyes, não seria razoável que um júri considerasse que as ações do réu pudessem ter causado uma lesão cerebral traumática que levasse ao suicídio do policial.
Walls-Kaufman, que mora a poucos quarteirões do Capitólio, negou ter agredido o agente. Ele alega que os ferimentos de Smith ocorreram mais tarde naquele dia, quando outro invasor atirou uma barra de metal que atingiu a cabeça do policial.
Na última sexta-feira (21), os jurados concluíram que Walls-Kaufman foi, sim, responsável por agredir o agente, então com 35 anos. A cena foi registrada por uma câmera corporal usada por Smith. “Erin está grata por receber alguma medida de justiça”, afirmou o advogado David P. Weber, que representa a viúva.
O réu, por sua vez, classificou a decisão de “absolutamente ridícula”. “Nenhum crime foi cometido. Nunca atingi o policial. Nunca tive essa intenção”, declarou Walls-Kaufman. “Estou perplexo.”
Após a saída dos jurados da sala, a juíza Reyes sugeriu às partes que discutam um possível acordo para evitar os custos de um recurso judicial. “Se vocês resolverem, podem seguir com suas vidas”, afirmou.
O advogado de Walls-Kaufman, Hughie Hunt, disse considerar o valor fixado pelo júri chocante. “Estamos falando de um evento que durou três segundos”, argumentou. “Não é chocante, sr. Hunt. Muita coisa pode acontecer em três segundos”, respondeu Reyes.
Jeffrey Smith tirou a própria vida com sua arma de serviço ao dirigir para o trabalho pela primeira vez após o ataque ao Capitólio. Segundo a família, ele não apresentava histórico de transtornos mentais antes daquele dia. Erin Smith alega que o marido sofreu uma concussão e trauma psicológico após ser atingido na cabeça com o próprio cassetete, durante o confronto com Walls-Kaufman.
O Departamento de Polícia havia liberado Smith para retomar suas funções normalmente. No entanto, em 2022, o Conselho de Aposentadoria e Socorro de Bombeiros e Policiais do Distrito de Columbia concluiu que ele foi ferido em serviço e que a lesão foi a “única e direta causa de sua morte”, segundo a ação judicial.
Walls-Kaufman foi condenado a 60 dias de prisão após se declarar culpado de um delito relacionado à invasão, em janeiro de 2023. Ele foi posteriormente perdoado. No primeiro dia de volta à Casa Branca, Donald Trump concedeu indulto, comutação de penas ou arquivamento de processos contra quase 1.600 pessoas envolvidas no ataque.
Mais de 100 policiais ficaram feridos na invasão. O agente Brian Sicknick, da Polícia do Capitólio, morreu no dia seguinte após interagir com os invasores —segundo o laudo médico, ele sofreu um AVC e morreu por causas naturais. Outro policial, Howard Liebengood, também cometeu suicídio após o episódio.
Erin Smith ainda tenta incluir o nome do marido no Memorial Nacional das Forças Policiais, como morte em serviço. O advogado dela afirma que a decisão pode sair em breve.