spot_img
HomeMundoHarlem atual não é o mesmo que projetou Malcolm X - 19/05/2025...

Harlem atual não é o mesmo que projetou Malcolm X – 19/05/2025 – Mundo

Uma distância de 4,5 km separa o palco onde Malcolm X foi abatido por dezenas de tiros e o cruzamento do boulevard Malcolm X com o boulevard Dr. Martin Luther King Jr, no centro comercial do Harlem.

O centenário do líder muçulmano, nesta segunda-feira (19), vai ser marcado por eventos em vários estados e no Harlem, onde ele adquiriu uma reputação nacional, como ministro do grupo Nação do Islã.

Uma caminhada ao longo do movimentado lado oeste da rua 125, que leva o nome de King, não revela referências visuais a Malcolm X. Vendedores ambulantes enchem as calçadas na frente de grandes cadeias de lojas que começaram a chegar nos anos 1990, um processo de gentrificação incentivado por empresários e autoridades locais.

Mas é só parar residentes da área e as referências a Malcolm X saem, espontâneas, de preferência com base só no primeiro nome. O zelador de edifícios Prince sabe a importância da esquina onde fuma um cigarro. Estamos diante do antigo hotel Theresa, apelidado de Waldorf Astoria do Harlem, onde Malcolm X alugou escritórios para a Organização da Unidade Afro-Americana, o grupo que fundou ao se distanciar do Nação do Islã e de seu líder e mentor Elijah Muhammad.

Hoje um edifício de escritórios tombado pelo patrimônio histórico de Nova York, o Theresa hospedava intelectuais negros e músicos como Louis Armstrong, Duke Ellington e Jimi Hendrix. Em setembro de 1960, durante a Assembleia Geral da ONU, a imprensa mundial se acotovelou na porta do hotel para cobrir o encontro do hóspede Fidel Castro com Malcolm X. O então premiê soviético Nikita Kruschev também foi ao hotel visitar o líder cubano.

Na mesma calçada, organizando uma banca de CDs, Godwyn diz que sua memória “número um” é o fato de Malcolm X ter sido muçulmano, como ele. “Mas,” conclui, indignado, “os que o assassinaram também eram”.

Na fila de um trailer de comida jamaicana, Kay abre um sorriso quando ouve o nome Malcolm X e interrompe seu entusiasmo com pedidos de mais molhos e pimenta para o vendedor. “Para mim, a memória de Malcolm X é tradição de família,” ela diz. E como esta memória é preservada? “Depende de para quem você perguntar,” diz Kay, deixando claro que se refere a grupos raciais.

Mais à frente, na banca de pedras e cristais, Zuwena explica, orgulhosa, que seu nome quer dizer “forte líder feminina” em Suaíli, embora o Google Tradutor teime em traduzir como “seja bem-vinda”, e representa bondade e beleza em culturas africanas. Ela cresceu ouvindo histórias de Malcolm X, já que seu pai foi professor de estudos afro-americanos em várias faculdades. Indagada sobre o principal motivo da admiração, ela não hesita: “Por todos os meios necessários”, a famosa frase de Malcolm X sobre o direito de defesa contra opressão.

Em meio à cacofonia de alto-falantes de automóveis e pregadores do apocalipse, James Manning poderia ser facilmente personagem de um filme sobre Nova York. Ele tentava recolher assinaturas de adesão à sua candidatura para a eleição de novembro, com um cartaz que dizia: “da prisão para pastor para prefeito” —a terceira etapa, uma impossibilidade matemática.

Manning lembra que desembarcou em Manhattan vindo de uma região rural da Carolina do Norte, meses depois do assassinato de Malcolm X, e destaca como virtude maior a coragem do líder que queria ter tido a chance de encontrar.

Numa mesa ao ar livre do celebrado restaurante Red Rooster, do chef Marcus Samuelsson, Abdulrashid Tsimbilla ainda usa a beca da festa de formatura. Ele se formou em segurança cibernética e diz que só aprendeu sobre Malcolm X quando emigrou de Camarões, há oito anos.

Malcolm X não reconheceria o Harlem gentrificado deste século onde, na sua fronteira ao sul acaba de ser inaugurado um novo complexo dentro do Central Park, o Davis Center at Harlem Meer, com piscina, rinque de patinação no gelo e espaço para esportes.

A cidade se recusou a tombar o Audubon Ballroom, onde Malcolm X foi assassinado em 21 de fevereiro de 1965, mas o exterior foi restaurado, e o prédio hoje abriga todo o seu arquivo, por iniciativa de sua viúva Betty Shabazz, morta em 1997. O local é hoje apoiado por seus herdeiros.

Fonte: Folha de São Paulo

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -spot_img

Outras Notícias