Enquanto os Estados Unidos pressionam por um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, a decisão do grupo palestino dependerá em grande parte de seu novo líder de fato na Faixa de Gaza.
O novo comandante, Izz al-Din al-Haddad, assumiu a ala militar em Gaza depois que as forças israelenses mataram Mohammed Sinwar, de acordo com um alto funcionário da inteligência do Oriente Médio e três funcionários da defesa israelense que falaram sob condição de anonimato para divulgar detalhes confidenciais. Nesta quinta-feira (3), Effie Defrin, porta-voz do exército israelense, disse que al-Haddad é o novo líder do Hamas.
Al-Haddad, que está na casa dos 50 anos, ajudou a planejar o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, disseram as autoridades. Acredita-se que ele seja um firme opositor dos esforços israelenses para destituir o Hamas do poder, sugerindo que ele poderia bloquear qualquer tentativa de libertar todos os reféns restantes antes do fim total da guerra em Gaza e da retirada das tropas israelenses.
“Ele tem os mesmos limites que seus antecessores”, disse Michael Milshtein, ex-oficial da inteligência militar israelense especializado em assuntos palestinos.
Acredita-se que Al-Haddad esteja baseado na Cidade de Gaza, sua cidade natal. Ele teria dito nas últimas semanas que vai conseguir um “acordo honroso” para acabar com a guerra com Israel ou então a guerra vai se tornar “uma guerra de libertação ou uma guerra de martírio”, disse o oficial de inteligência do Oriente Médio.
As negociações indiretas entre Israel e o Hamas falharam repetidamente em conseguir um cessar-fogo, prolongando o sofrimento dos civis palestinos e o cativeiro dos reféns. Mas, na última semana, o governo Trump tem pressionado por um fim das hostilidades, ajudando a elaborar uma nova proposta que começaria com uma pausa de 60 dias nos combates, durante a qual ocorreriam negociações sobre o fim da guerra. Até quinta-feira, os líderes do Hamas estavam deliberando se concordariam com a proposta.
Izzat al-Rishq, um funcionário de alto escalão do Hamas, não respondeu a um pedido de comentário.
O principal obstáculo para se chegar a um acordo entre o Hamas e Israel tem sido a permanência de qualquer cessar-fogo. O Hamas tem insistido em um fim duradouro para a guerra em Gaza. Mas o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que as capacidades militares e governamentais do Hamas devem primeiro ser desmanteladas.
Desde o ataque de 7 de outubro, al-Haddad tem sido o único comandante sênior do Hamas a dar uma entrevista oficial, aparecendo em um documentário da Al Jazeera que foi ao ar no final de janeiro.
“A liderança da ocupação, apoiada pelos Estados Unidos e pelo Ocidente, terá que se submeter às nossas justas exigências“, disse ele com o rosto oculto por uma sombra. As exigências, afirmou, incluem a retirada israelense de Gaza, o fim da guerra, a libertação de prisioneiros palestinos, a permissão para a reconstrução do enclave e a suspensão das restrições à entrada e saída de mercadorias.
Na entrevista, ele também falou sobre a manobra para enganar Israel antes do ataque de 2023 e disse que o grupo havia informado seus aliados sobre seus planos gerais para o ataque. Mas acrescentou que o grupo não havia compartilhado o momento exato e não esclareceu quais detalhes o Hamas havia fornecido aos seus aliados.
Al-Haddad, conhecido por seus compatriotas como Abu Suheib, é um dos poucos comandantes vivos que serviram no conselho militar de alto nível em 7 de outubro. Na época, ele servia como líder da divisão do Hamas na cidade de Gaza. Mohammed Deif, líder da ala militar, e seu vice, Marwan Issa, foram mortos em 2024.
Raed Saad, um membro poderoso do conselho e aliado próximo de al-Haddad, ainda é considerado vivo, de acordo com o oficial de inteligência do Oriente Médio e um dos oficiais de defesa israelenses.
Embora as forças armadas israelenses não tenham conseguido matar al-Haddad, registros do Ministério da Saúde de Gaza indicam que seu filho mais velho, Suheib, estava entre as pessoas mortas durante a guerra. Em abril, o Shin Bet, a agência de inteligência interna israelense, anunciou a morte de Mahmoud Abu Hiseira, descrito como o braço direito de al-Haddad.