O governador da Califórnia, Gavin Newsom, fez um discurso televisionado na noite desta terça-feira (10) no qual comparou Donald Trump a “ditadores falidos” e acusou o presidente dos Estados Unidos de colocar a nação à beira do autoritarismo ao enviar forças militares para conter protestos em Los Angeles.
O democrata também instou os americanos a enfrentarem Trump, chamando este de um “momento perigoso” para a democracia e as normas legais há muito estabelecidas no país.
“A Califórnia pode ser a primeira, mas claramente não terminará aqui. Outros estados são os próximos. A democracia é a próxima”, disse Newsom de um estúdio em Los Angeles. “A democracia está sob ataque diante de nossos olhos —o momento que temíamos chegou.”
O governador afirmou ainda que o envio de 4.000 soldados da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais à cidade, que passa pelo seu quinto dia de protestos contra as políticas migratórias do governo federal, “inflamou uma situação explosiva”.
“Trump está estendendo uma rede militar por toda Los Angeles”, disse o político. “Muito além de sua intenção declarada de apenas perseguir criminosos violentos e perigosos, seus agentes estão prendendo lavadores de pratos, jardineiros, diaristas e costureiras.”
Newsom é considerado um possível candidato presidencial do Partido Democrata em 2028, e o atual impasse político acabou sendo um trampolim para o governador confrontar Trump e republicanos nos últimos dias. Seu discurso, intitulado “Democracia em uma Encruzilhada”, pareceu ser direcionado a todos os americanos —a fala foi transmitida em algumas redes nacionais e, após um breve atraso devido a problemas de áudio, nas redes sociais do democrata.
Em breve, a disputa vai migrar para a Justiça. Na segunda (9), Newsom processou o presidente, contestando a mobilização militar como uma apropriação ilegal do poder estadual. Na terça, ele apresentou uma moção de emergência pedindo ao tribunal que impeça imediatamente os militares de patrulhar as ruas da cidade ou trabalhar com agentes de imigração.
Uma audiência sobre esse pedido está marcada para quinta (12).
“Regimes autoritários começam visando pessoas que têm menos capacidade de se defender”, disse Newsom no discurso televisionado. “Mas eles não param por aí. Trump e seus leais prosperam com a divisão porque isso permite que eles assumam mais poder e exerçam ainda mais controle.”
A ação foi incomum para o governador, que tem dislexia e não gosta de fazer discursos formais, lendo em um teleprompter. No entanto, ele tem usado todos os canais de comunicação possíveis para soar o alarme sobre as medidas extraordinárias que Trump tomou para mobilizar os militares para usos domésticos.
A última vez que um presidente enviou soldados da Guarda Nacional para conter distúrbios sem o apoio do governador do estado nos EUA foi durante o movimento pelos direitos civis, na década de 1960.
“Peço a todos que tirem um tempo para refletir sobre este momento perigoso”, disse ele. “Um presidente que não quer estar vinculado a nenhuma lei ou constituição, perpetrando um ataque unificado às tradições americanas.”
Newsom disse ainda que o presidente havia usado uma bola de demolição contra as normas do governo dos EUA, obliterando freios e contrapesos. “O Congresso não está em lugar nenhum”, disse ele. “O presidente da Câmara, Mike Johnson, abdicou completamente dessa responsabilidade. O Estado de Direito tem dado lugar cada vez mais ao governo de Don.”
Pouco antes do discurso de Newsom ir ao ar, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, anunciou um toque de recolher para a área do centro, onde ocorrem as maiores manifestações. Milhares de manifestantes marcharam pacificamente durante o fim de semana, mas saques e vandalismo levaram a prefeita a decidir fechar vários quarteirões entre 20h e 6h.
Newsom implorou aos manifestantes que fossem pacíficos e disse que aqueles que incitassem violência ou destruíssem propriedades seriam processados. Segundo o político, 370 pessoas haviam sido presas.
Apesar disso, ele pediu às pessoas que enfrentassem Trump, a quem comparou com líderes de países autoritários ao falar sobre o desfile militar programado para sábado em Washington, que homenageará o 250º aniversário do Exército dos EUA, mas também coincidirá com o 79º aniversário de Trump.
“Ele está ordenando que nossos heróis americanos, os militares dos EUA, sejam forçados a fazer uma exibição vulgar para celebrar seu aniversário, assim como outros ditadores fracassados fizeram no passado”, disse Newsom.