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EUA: Praça onde Floyd foi morto tem futuro indefinido – 21/05/2025 – Mundo

O cruzamento da rua 38 East com a avenida Chicago, em Minneapolis, nos Estados Unidos, mudou para sempre há cinco anos, quando um policial se ajoelhou sobre o pescoço de George Floyd em 25 de maio de 2020 e o matou.

O assassinato desencadeou um acerto de contas nacional sobre racismo e violência policial. No local onde ocorreu, surgiu um espaço de protesto, arte, luto e memória — que, para muitos na comunidade, ainda se assemelha a uma ferida aberta.

Esculturas de madeira em forma de punhos erguidos, pintadas de marrom, marcam os dois extremos da rua. Murais impactantes nas redondezas foram alvo de vandalismo e restaurações sucessivas.

Moradores e autoridades municipais debatem há anos o que deve ser feito com o local e como o homem cujo assassinato alimentou o movimento Black Lives Matter deve ser homenageado.

A situação não resolvida desse espaço reflete, de muitas maneiras, como o país permanece estagnado em questões de raça, justiça e reparações.

Sobre isso há pouco debate: a praça George Floyd deu origem a um movimento que mudou os EUA. Mas qual será seu legado e futuro?

A calçada onde Floyd deu seu último suspiro depois de protestar repetidamente com a frase “não consigo respirar” tornou-se um local de peregrinação com um memorial em constante transformação. Está repleta de bichos de pelúcia desbotados, camisetas velhas, fotos, flores, rosários e outros totens que pessoas que passam para prestar suas homenagens deixaram ao longo dos anos.

Nos dias após o assassinato de Floyd, os moradores bloquearam as ruas que levam ao cruzamento da 38 com a Chicago. Vizinhos levaram comida para compartilhar. Pessoas forneceram primeiros socorros aos feridos nas manifestações. E civis estabeleceram postos de controle nas ruas que levam ao cruzamento.

“Você sabia que algo especial estava acontecendo”, disse Jeanelle Austin, uma moradora antiga que se tornou cuidadora do memorial. “Tornou-se uma base para os protestos durante a revolta, e pessoas no meio da noite estavam formando círculos para vigília.”

A cidade tem tentado virar a página da praça George Floyd como um local de protesto improvisado, apresentando um plano para reformular as ruas e calçadas e reservando o terreno de um posto de gasolina fechado para construir um memorial ou centro comunitário.

Mas os moradores estão divididos sobre se o cruzamento deve se tornar uma praça para pedestres ou permanecer aberto ao tráfego.

Jeanelle Austin, por exemplo, não quer ver os punhos serem removidos ou o santuário improvisado substituído por algo mais polido.

“A razão pela qual este lugar ainda está perturbado é porque não nos tornamos quem precisamos ser. Se pudermos chegar a um ponto em que somos uma nação onde não estamos tirando vidas por tirar vidas, então podemos começar a falar sobre estética.”

O procurador-geral de Minnesota, Keith Ellison, que processou Derek Chauvin, o ex-policial de Minneapolis condenado pelo assassinato de Floyd, disse que este lugar para ele era um terreno sagrado.

No ano passado, 1.260 pessoas foram mortas por policiais nos EUA, o maior número na última década. Em abril, o presidente Donald Trump assinou um decreto para “policiar agressivamente as comunidades”, incluindo a revisão de acordos do Departamento de Justiça com Minneapolis e outras cidades para conter o policiamento abusivo e discriminatório.

“Cinco anos após a morte de George Floyd, podemos estar em um estado de retrocesso”, disse Ellison. “O governo federal abandonou a ideia de tentar melhorar as relações entre a polícia e a comunidade e de garantir que as pessoas se sintam iguais perante a lei e sejam tratadas igualmente perante a lei.”

Após a morte de Floyd, o Departamento de Justiça e o Departamento de Direitos Humanos de Minnesota divulgaram dois relatórios condenatórios. Minneapolis concordou com mudanças substanciais em seu Departamento de Polícia, incluindo medidas para conter o uso da força, reforçar o treinamento e abordar práticas discriminatórias.

Funcionários de Minneapolis estão indecisos sobre a praça George Floyd, após o Conselho Municipal rejeitar em fevereiro uma proposta do prefeito, mesmo após gastar mais de US$ 2 milhões (R$ 11,3 milhões) em consultas comunitárias. O plano incluía calçadas mais largas, mais árvores e revitalização do distrito comercial.

“Este deve ser um lugar sagrado para entender as injustiças raciais que foram perpetradas por centenas de anos”, disse Jacob Frey, prefeito de Minneapolis. “E também deve ser um lugar onde você pode conseguir um sanduíche e uma xícara de café, um lugar que agrega valor ao bairro ao redor.”

Frey, que busca um terceiro mandato, disse que a visão da cidade para a praça George Floyd refletia os desejos de uma grande parte dos moradores e proprietários de negócios na área. “É hora de seguir em frente”, disse ele. “Há uma diferença entre seguir em frente e deixar para trás.”

Muito antes da morte de George Floyd, a vereadora Andrea Jenkins já se preocupava com a revitalização da área que hoje abriga a praça. A região, que já foi um vibrante distrito comercial com forte presença negra, entrou em declínio após a construção de uma rodovia na década de 1960, que deslocou milhares de moradores e contribuiu para o fechamento de escolas, dificuldades econômicas e aumento da criminalidade.

“Muitas vezes, quando venho aqui, penso no poder negro e na capacidade de reivindicar espaço”, disse Andrea. Para ela, apesar da dor ainda presente, é hora de agir e construir um memorial permanente, melhorar a infraestrutura e incentivar novos negócios.

O vereador Jason Chavez, do distrito onde Floyd foi assassinado, votou contra o plano da praça, temendo que isso pudesse fazer o caso cair no esquecimento. Ele propõe um calçadão sem tráfego e defende que a cidade deve confrontar seu passado e o dano racial atual. “Há uma oportunidade de preservar a área aqui e torná-la melhor para o futuro sem esquecer o que aconteceu.”

Angela Harrelson, tia de Floyd, sente mais consolo do que luto atualmente na praça. Refletindo sobre os últimos cinco anos, ela é surpreendentemente otimista.

O governo Trump demonizou as iniciativas de diversidade, equidade e inclusão que floresceram após o assassinato de Floyd e prometeu “soltar os policiais” que o presidente afirma terem sido silenciados por liberais. Mas o legado do brutal assassinato de Floyd permanece intacto.

“Depois que ele foi morto, houve uma conscientização que nunca vi antes”, disse Angela. “Houve uma validação de que ‘Ei, isso não está em nossas cabeças, que a polícia está matando pessoas negras. É real.’ Não era assim antes. Era mais como quase um tabu falar sobre racismo.”

Fonte: Folha de São Paulo

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