Irã e Estados Unidos concordaram neste sábado (19) em designar especialistas para começar a elaborar a estrutura de possível acordo nuclear, disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, após uma segunda rodada de negociações, que ocorreu após a ameaça do presidente Donald Trump de uma ação militar.
No segundo encontro indireto em uma semana, Araqchi negociou por quase quatro horas em Roma com o enviado de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, por meio de um enviado do governo de Omã que transmitia mensagens entre eles.
Nenhuma das partes especificou, porém, como estes especialistas serão escolhidos.
Trump, que abandonou o pacto nuclear de 2015 entre Teerã e as potências mundiais durante seu primeiro mandato, em 2018, ameaçou atacar o Irã a menos que um novo acordo seja alcançado rapidamente, impedindo o país de desenvolver uma arma nuclear.
O Irã diz estar disposto a discutir restrições limitadas ao seu trabalho atômico em troca da suspensão das sanções internacionais. O país persa sempre afirmou que seu programa nuclear é pacífico.
À TV estatal do Irã Araqchi descreveu as reuniões como úteis e feitas em uma atmosfera construtiva.
“Conseguimos avançar em vários princípios e objetivos, e, no fim das contas, alcançamos um melhor entendimento”, disse. “Ficou acordado que as negociações continuarão e passarão para a próxima fase, na qual reuniões em nível técnico começarão na quarta-feira (23), em Omã. Os especialistas terão a oportunidade de começar a desenhar a estrutura de um acordo.”
Os principais negociadores se reunirão novamente em Omã no próximo sábado (26) para “revisar o trabalho dos especialistas e avaliar o quanto ele se alinha com os princípios de um possível acordo”, acrescentou Araqchi.
Reforçando os comentários cautelosos da semana passada do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, Araqchi disse não poder afirmar que está otimista, mas que não há razão para ser excessivamente pessimista.
Não houve comentários imediatos por parte dos EUA após as negociações. Trump disse a repórteres na sexta-feira que era a favor de impedir que o Irã tivesse uma arma nuclear. “Eles não podem ter uma arma nuclear. Quero que o Irã seja grande, próspero e extraordinário.”
Principal aliado dos EUA no Oriente Médio, Israel, que se opôs ao acordo de 2015, não descartou um ataque às instalações nucleares iranianas nos próximos meses, segundo um funcionário de Tel Aviv e outras duas pessoas familiarizadas com o assunto.
Desde 2019, o Irã violou e ultrapassou amplamente os limites do pacto de 2015 sobre o enriquecimento de urânio, produzindo estoques muito acima do que o Ocidente considera necessário para um programa de energia civil.
Um alto funcionário iraniano, que descreveu a posição de negociação de Teerã sob condição de anonimato na sexta-feira, listou como linhas vermelhas do país jamais concordar em desmantelar suas centrífugas de enriquecimento de urânio, em interromper totalmente o enriquecimento ou em reduzir seu estoque de urânio enriquecido abaixo dos níveis acordados no pacto de 2015.