spot_img
HomeMundoEUA: Conheça a trajetória de Usha Vance, segunda-dama - 28/06/2025 - Mundo

EUA: Conheça a trajetória de Usha Vance, segunda-dama – 28/06/2025 – Mundo

Ela matriculou seus três filhos em novas escolas, organizou encontros para brincadeiras e supervisionou a adaptação de sua casa de 836 metros quadrados para torná-la segura para crianças. Ela leva os filhos ao seu gabinete de segunda-dama, com vista para o Monumento a Washington, frequenta missas com a família nos subúrbios (nos EUA, o equivalente a bairros ricos mais afastados) da Virgínia e faz trilhas por bosques em torno de Washington, acompanhada pelo Serviço Secreto.

Ela tem uma relação calorosa com o presidente dos Estados Unidos, que se impressiona com suas credenciais acadêmicas e lhe diz que é bonita, segundo um alto funcionário do governo. Ela também se dá bem com Melania Trump, a primeira-dama.

Menos de um ano atrás, ela, Usha Vance, ex-democrata e filha de imigrantes, vivia uma vida radicalmente diferente como advogada em um escritório progressista, enquanto criava seus filhos em Ohio. Muitos amigos antigos estão perplexos com sua transformação. Dizem que ela pode ser a esposa do vice-presidente, mas certamente deve estar horrorizada com os ataques do governo Trump ao meio acadêmico, aos escritórios de advocacia, aos juízes, aos programas de diversidade e aos imigrantes.

Outros dizem que ela aprecia o afastamento da carreira jurídica e gosta do glamour e da influência de seu novo papel. (Usha, que foi assistente do presidente da Suprema Corte, John Roberts, e editora principal do Yale Law Journal, se referiu recentemente a si mesma como uma ex-advogada)

Notam que ela sempre apoiou as ambições do marido, mesmo que nem sempre as compartilhasse. Pessoas próximas ao vice-presidente, que passou de crítico ferrenho a companheiro de chapa de Donald Trump, argumentam que Usha fez uma jornada semelhante, embora menos pública, que a afastou da esquerda.

De qualquer forma, colegas dizem que ela é, ao menos por enquanto, um modelo do movimento abraçado pela Casa Branca e promovido por seu marido, que incentiva as mulheres a terem mais filhos e a celebrarem a família como o centro da vida americana.

“Acho que ela está fazendo um ótimo trabalho como segunda-dama dos Estados Unidos”, disse o vice-presidente J. D. Vance em março, em Bay City, Michigan, com Usha ao seu lado. “E aqui está a coisa: como todas as câmeras estão ligadas, qualquer coisa que eu diga, por mais absurda que seja, a Usha tem que sorrir, rir e comemorar.”

O vice-presidente foi acusado de sexismo. Mas quem conhece o casal diz que, apesar do silêncio em público, J. D. Vance conta com os conselhos da esposa em privado.

A influência dela sobre o marido é incalculável, disse um funcionário do alto escalão do governo Trump, que trabalhou com Usha esporadicamente no último ano e pediu anonimato. Ele a descreveu como alguém com opiniões bem fundamentadas sobre casamento, política e fé, mas que mantém uma postura reservada.

Se Usha, 39, não está feliz com todos os aspectos do governo Trump, amigos dizem que ela jamais demonstraria isso. Sua história e sua criação indicam isso, afirma o funcionário.

Os Vances têm babás, mas não uma governanta residente, e J. D. costuma deixar a ala oeste cedo para jantar com a família e ajudar a colocar as crianças para dormir. Eles também levaram os três filhos —atualmente com 8, 5 e 3 anos— em viagens oficiais internacionais, incluindo uma cerimônia de Sexta-Feira Santa no Vaticano e um jantar em Nova Déli com o primeiro-ministro da Índia.

Usha Vance recusou-se a dar entrevista para esta reportagem, assim como muitos parentes, amigos e colegas. Mais de uma dúzia que falaram só o fizeram sob condição de anonimato, por medo de irritá-la.

Apenas recentemente ela começou a se aventurar por conta própria e ofereceu um vislumbre de si mesma e do propósito que vê em seu novo papel. Em 1º de junho, ela anunciou na rede social X o “Desafio de Leitura de Verão 2025 da Segunda-Dama” para crianças, motivada por sua visão de que a leitura é um antídoto para as distrações modernas.

Desde o início, quando se conheceram na Faculdade de Direito de Yale, Usha tem sido o guia do marido no mundo da elite e um bálsamo para seu temperamento explosivo. Um amigo do casal disse que J. D. não seria vice-presidente sem ela.

“Sou um daqueles caras que realmente se beneficia de ter uma voz feminina poderosa sobre seu ombro esquerdo dizendo ‘Não faça isso, faça aquilo’”, disse J. D. a Megyn Kelly em 2020. Durante muito tempo, essa voz foi de sua avó, Mamaw. “Agora é a Usha”, disse ele.

Ao contrário de J. D., cujas origens estão em uma família disfuncional da classe trabalhadora branca retratada em seu best-seller “Hillbilly Elegy” (“Era uma Vez um Sonho”, na tradução para o português), Usha é a filha mais velha de dois imigrantes indianos bem-sucedidos, Krish e Lakshmi Chilukuri. Eles chegaram à Califórnia no início dos anos 1980.

Os Chilukuris se estabeleceram em Rancho Peñasquitos, um bairro planejado de San Diego, onde a casa deles hoje vale US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 5,4 milhões). Krish, pai de Usha, trabalhou como engenheiro aeroespacial na United Technologies e Collins Aerospace por 30 anos e hoje é professor na Universidade Estadual de San Diego. Lakshmi, sua mãe, é bióloga molecular e reitora do Sixth College, uma escola de graduação da Universidade da Califórnia em San Diego.

Usha se destacou na escola secundária Mount Carmel, no Yale College, em uma bolsa de estudos na China e com uma prestigiada bolsa da Fundação Gates na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Escreveu no anuário dos bolsistas Gates que seus interesses eram “explorar bairros urbanos, cozinhar e ir a feiras orgânicas, longas caminhadas, entrar em pânico com a faculdade de direito”.

Quaisquer que fossem suas preocupações, amigos a descrevem como um retrato de confiança quando ela voltou a Yale em 2010 para começar o curso de direito. Ela e J. D. Vance logo foram designados como parceiros em um importante trabalho escrito. Ele ficou impressionado.

“Ela parecia uma espécie de anomalia genética, uma combinação de todas as qualidades positivas que um ser humano deveria ter: inteligente, trabalhadora, alta e bonita”, escreveu ele em uma passagem amplamente citada em “Hillbilly Elegy”.

O sentimento não foi mútuo no início. “Acho justo dizer que J. D. era uma espécie de acelerador no relacionamento, e eu era um pouco o freio”, ela disse à plateia no fórum EUA-Índia neste mês. “Porque eu estava meio que focada na parte escolar.”

Os dois se casaram em 2014 em uma cerimônia ao ar livre em Kentucky, perto da cidade natal de J. D. Vance, e passaram a década seguinte cruzando o país. Ao longo do caminho, Usha deu à luz Ewan em 2017, Vivek em 2020 e Mirabel em 2021.

Ela trabalhou como assistente do juiz Brett Kavanaugh no Tribunal de Apelações do Circuito do Distrito de Columbia e depois para o presidente da Suprema Corte, John Roberts. Trabalhou ainda no escritório Munger, Tolles & Olson em São Francisco e Washington. J. D. Vance tornou-se sócio de um fundo de capital de risco cofundado por Peter Thiel, bilionário do Vale do Silício e apoiador de Trump.

Em 2017, o casal se mudou para Cincinnati, Ohio, onde Usha passou a trabalhar remotamente para o Munger. Compraram uma casa vitoriana de US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 7,69 milhões) em East Walnut Hills, um bairro de inclinação liberal. Usha entrou para o conselho da Orquestra Sinfônica de Cincinnati e colava bilhetes nos vinhos para lembrar o marido quais eram os bons para servir às visitas.

Um momento crucial para Usha ocorreu em 2018, quando Christine Blasey Ford acusou Kavanaugh, então indicado à Suprema Corte, de tê-la agredido sexualmente em uma festa do ensino médio quase 40 anos antes. Kavanaugh negou a acusação e foi confirmado como ministro por uma margem estreita, mas amigos dizem que Vance ficou indignada com os ataques democratas a um homem que ela admirava.

“Minha esposa trabalhou com Kavanaugh, adorava o cara —meio nerd”, J. D. Vance contou ao colunista do New York Times Ross Douthat no ano passado. “Nunca acreditou nessas histórias.”

Quando J. D. Vance se tornou vice na chapa de Trump em 2024, Usha deixou o cargo no Munger e mergulhou na campanha. Ela e os filhos acompanharam o marido em diversos eventos, e colegas dizem que ela teve papel crucial na preparação para o debate contra o governador democrata Tim Walz, de Minnesota.

Usha Vance tem, em grande parte, se mantido distante das disputas políticas e ideológicas do governo, mesmo enquanto seu marido continua sendo uma figura polarizadora.

A única exceção foi em março, quando ela planejou uma viagem para assistir a uma corrida nacional de trenós puxados por cães na Groenlândia —território que Trump já declarou querer comprar da Dinamarca. Usha gravou um vídeo alegre antes da viagem, que acabou sendo reduzida a uma breve parada com o marido em uma base militar dos EUA, após forte rejeição dos groenlandeses.

Nos próximos meses, ela diz que continuará lançando projetos como segunda-dama. Por ora, segue levando os filhos ao seu escritório no Edifício Executivo Eisenhower —aquele com vista para o Monumento a Washington.

Fonte: Folha de São Paulo

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -spot_img

Outras Notícias