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Equador: o clima como primeiro desafio de Daniel Noboa – 18/11/2023 – Sylvia Colombo

O novo presidente do Equador, Daniel Noboa, 35, assumirá o comando de seu país nesta quinta-feira (23). Sua expectativa é conseguir, ao menos, acalmar uma nação que vive já há alguns anos uma intensa vertigem política e social, enquanto seus subúrbios e prisões seguem banhados em sangue.

Mas há outras urgências, embora não tão alarmantes e midiáticas, que golpeiam fortemente à sua porta. Uma delas é a climática.

Num plebiscito realizado em agosto, a população equatoriana votou para que se freasse a exploração petrolífera do parque Yasuní, um dos mais importantes da região. A vitória, impulsionada por uma intensa e longa campanha de ONGs de proteção ambiental e povos indígenas, foi expressiva, de 59,1% contra 40,8%.

A celebração foi igualmente festiva. Não é todo dia que ambientalistas e povos da floresta têm razões para comemorar. Aliás, não há precedentes de casos em que a população de um país diga não à exploração de um recurso de modo tão taxativo.

O Yasuní possui uma imensa diversidade de fauna e flora. Apenas em tipos de árvores, há mais de 1.700, mais do que Canadá e Estados Unidos juntos. Entre as diversas nações indígenas que o habitam, três estão sem contato com o restante do país, por deliberação própria.

Porém, a alegria não durou muito. Ainda neste finalzinho da gestão, o empresário conservador Guillermo Lasso, que fracassou em sua tentativa de governar o país e em maio teve de dissolver o Parlamento e convocar eleições para evitar impeachment, na chamada “morte cruzada”, encontrou uma brecha para tentar melar o plebiscito.

Primeiro, vazou um vídeo de uma reunião ministerial em que ele dizia que não pararia com a exploração da área protegida, conhecida como “bloco 43”. Dali, saem 55 mil barris de petróleo por dia, 11% da produção nacional. Há, ainda, exploração ilegal que tenta burlar o resultado do plebiscito para seguir atuando, como o tráfico de madeiras silvestres, o garimpo e a pesca clandestina.

Ao dar explicações sobre o vídeo, Lasso acrescentou que empreendimentos como a exploração do Yasuní “não podem fechar da noite para o dia”.

Segundo o resultado do plebiscito, a ação de desmonte da atividade petrolífera deveria começar imediatamente, com um ano para ser concluída.

Indagado sobre que atitudes tomaria uma vez estivesse instalado no palácio de Carondelet (sede do governo equatoriano), sobre este tema, Noboa minimizou o assunto. Ainda estava em campanha e buscava o voto jovem, urbano e engajado de Quito. Afirmou que deixar de explorar o Yasuní não poderia fazer tanta falta à economia do país porque havia outras opções sustentáveis.

A questão é que, até agora, Noboa não as apresentou. E não sabemos o que fará quando, de fato, contabilizar o rombo das rendas petrolíferas sem Yasuní —tampouco com que argumentos enfrentará os empresários do setor, que muito têm a perder com o cumprimento do resultado do plebiscito.

A verdade é que o futuro do Yasuní já esteve ameaçado em várias ocasiões. O próprio governo de Rafael Correa (2007-2017), tentando atender aos pedidos da população local, pediu ajuda à comunidade internacional para que lhe concedesse fundos para uma exploração sustentável do parque. Como não houve retorno, acabou autorizando que a fonte continuasse a ser usada, o que causou desconforto com ambientalistas e grupos indígenas.

Desde outubro de 2019 [quando ocorreram intensas manifestações em Quito], o governo do Equador tem um problema mal resolvido com seus povos originários. Os protestos foram interrompidos com um frágil acordo e sempre estão prestes a voltar à tona.

Noboa sabe que a pauta climática de 2019 é, em 2023, ainda mais importante. Começar o mandato resolvendo o drama do Yasuní poderia ser uma maneira de iniciar a gestão com o pé direito.


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Fonte: Folha de São Paulo

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