As relações entre Irã e Israel nem sempre foram conflituosas. Os países já tiveram um relacionamento amigável logo depois da criação do Estado judeu
O Irã votou em 1949 contra a entrada de Israel na ONU, mas, em seguida, foi um dos primeiros países islâmicos a reconhecê-lo, em 1950. Existiu uma cooperação durante o regime do xá Reza Pahlavi, que durou de 1941 a 1979
Israel tinha interesse em se aliar a países não árabes na região, enquanto a ideia do Irã era usar Israel como uma maneira de se aproximar dos Estados Unidos. O cenário mudou em 1979 com a Revolução Iraniana
Foi instaurado o regime teocrático dos aiatolás, que segue até hoje no poder. O aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989) passou a usar a causa palestina como um de seus alicerces simbólicos contra Israel
Com os anos, a rivalidade foi se firmando. Teerã enxergava em Israel uma extensão regional de seu inimigo, os Estados Unidos. Tanto que se refere a Tel Aviv como “pequeno Satanás” e a Washington como “grande Satanás”
A invasão israelense ao Líbano, em 1982, tensionou ainda mais a situação. O Irã financiou e apoiou a criação da milícia libanesa Hezbollah, hoje uma das principais ameaças a Israel na região
O Irã também usa como preposto a facção palestina Hamas, surgida em 1987, e sustenta ainda milícias em países como Iraque e Iêmen, caso dos houthis, que têm feito ataques recorrentes a embarcações no Mar Vermelho com o início da guerra Israel-Hamas
Nos anos 2000, uma série de ataques virtuais atingiu as instalações do programa nuclear iraniano. A tese é de que Israel tenha sido, em parte, responsável. Com o início da guerra civil síria, em 2011, esses ataques indiretos ficaram mais frequentes e mais graves
Acredita-se que Tel Aviv tenha bombardeado diversos alvos de interesse iraniano na Síria nesta última década —apesar de os israelenses, por estratégia, nunca admitirem a sua autoria
A situação ganhou outro contorno depois dos atentados do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023. Israel respondeu de modo considerado desproporcional por boa parte da comunidade internacional, em uma ofensiva que já matou mais de 33 mil pessoas
Desde então, Tel Aviv alvejou diversas forças ligadas ao Irã tanto no Líbano quanto na Síria. O mais grave desses ataques foi o do início de abril de 2024 à representação iraniana em Damasco, em que 13 pessoas morreram
A inimizade Israel-Irã é também uma questão doméstica, no sentido em que os países demonizam o rival como maneira de ter um inimigo externo visível
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