Após duas decisões seguidas de Pequim que ameaçam afetar as exportações agrícolas brasileiras para o país, o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, conversou por telefone com o ministro do exterior da China, Wang Yi.
Segundo relato divulgado pelo próprio ministério chinês nesta quinta (23), tanto Amorim como Wang destacaram que a visita do líder Xi Jinping a Lula há dois meses foi “bem-sucedida” e alcançou “importante consenso”, que agora demanda “implementação”.
Na visita de Estado, em novembro, o presidente brasileiro rejeitou a entrada do país na Iniciativa Cinturão e Rota, projeto chinês para infraestrutura no exterior. Antes da cúpula, Lula havia afirmado que entraria, dependendo do que Pequim oferecesse.
No final de dezembro, a China anunciou investigação sobre suas importações de carne, que têm o Brasil como maior fornecedor. A decisão foi avaliada por um pecuarista paulista como aviso de Pequim, após o Brasil sobretaxar produtos chineses como aço e carros elétricos.
E nesta semana o Ministério da Agricultura do Brasil informou que a Administração Geral das Alfândegas da China passou a recusar soja brasileira enviada por cinco empresas, entre elas as gigantes americanas Cargill e ADM, após encontrar contaminação química e outras.
No telefonema, Amorim citou o Fórum China-Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe), que tem encontro previsto para o meio do ano em Pequim. “O Brasil atribui grande importância ao Fórum e se dispõe a fortalecer a coordenação com a China para realizá-lo com sucesso”, teria dito, segundo o relato.
O chanceler chinês, de sua parte, afirmou apoio ao Brasil na presidência do grupo Brics e na preparação da Conferência do Clima, neste ano.
Tanto Amorim como Wang mencionaram ainda a proposta sino-brasileira para a Guerra da Ucrânia, feita no ano passado e que resultou na formação do grupo Amigos da Paz, reunindo também outros países. O brasileiro disse que “ambos os lados devem aproveitar a oportunidade para alavancar ainda mais o papel da plataforma”.
Wang Yi, que visitou o Brasil em janeiro do ano passado, fechando a tradicional viagem dos chanceleres chineses à África no início de cada ano, desta vez se limitou ao telefonema.