Há um ano, Joe Biden era o presidente dos Estados Unidos e contava apenas com 38% de aprovação, sua performance em um debate transbordou os limites do partido democrata, que o substituiu por Kamala Harris. Diferentes analistas apontavam que o modo abrupto e a situação da vice tornavam plausível supor que ela não tivesse nenhuma chance de ganhar com os desafios que enfrentou. Ao refletir sobre a derrota, é possível ponderar como teria sido possível evitá-la, caso partido e presidente tivessem acolhido percepção e críticas sobre a idade avançada, e baixa aprovação.
Hoje, o Brasil vive um cenário político também marcado pela queda de popularidade e presença de uma figura pública conhecida: o presidente Lula. São mais de 40 anos de atuação política e um legado significativo no combate às desigualdades. Seu retorno após a prisão e derrota de seu partido em 2018 reforçam sua relevância, hoje a principal liderança política e eleitoral do país.
A atenção ao cenário político nacional, às tendências internacionais e às novas demandas do eleitorado urge. É estratégico acumular massa crítica e aprender com as recentes derrotas internacionais da esquerda. Após a conquista do resultado mais acirrado da história democrática, Lula talvez enfrente alta vulnerabilidade em 2026. A desaprovação do governo em março chegou a 53%, há insatisfação sobre o combate à inflação e apenas 17% avaliam a economia como ótima/boa. Tais números se aproximam da aprovação sobre a economia no governo Biden, um ano antes da eleição.
É preciso considerar se tal avaliação pode mudar. Sem dúvida, este será um dos principais temas explorados na campanha e na desinformação. O jogo das fake news avança a agenda da direita, uma onda que não para, antes encorpa.
O momento para evitar uma derrota nas urnas já está dado. Uma possibilidade seria escolher alguém e apoiar a renovação política desde o início. Discutir a sucessão na esquerda é crucial para superar a extrema direita, algo que o estudo das derrotas passadas pode ensinar ao país.
Há figuras potenciais na centro-esquerda para liderar o Brasil. Se tomado o sucesso eleitoral, uma tecitura de alianças se destaca: Marina Silva, João Campos, Geraldo Alckmin, Simone Tebet , Eduardo Paes e até o ministro do STF, Flávio Dino. Um dos principais acertos da eleição de 2022 foi a coalizão em defesa da democracia. É fundamental que o PT considere alianças mais amplas e não se isole, para evitar repetir os erros de 2018.
Essa decisão não pode ser algo que diga respeito apenas à vontade do presidente. Discuti-la representa uma escolha profunda sobre o futuro do país, atenta às memórias democráticas. O atual presidente Trump um —antidemocrata— ainda assim é referência para alguns. Nenhum cenário seria pior para a agenda da equidade econômica, da justiça social, dos direitos humanos e da democracia do que os caminhos que o retorno da extrema direita poderia conduzir neste país.
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