Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia, conquistou um voto de confiança no Parlamento nesta quarta-feira (11), em Varsóvia. Não era esperado outro resultado, já que a coalizão de governo é majoritária no Parlamento. “Temos um mandato para assumir total responsabilidade pelo que acontece na Polônia”, afirmou Tusk antes da votação, que atrasou mais de duas horas devido à quantidade de parlamentares inscritos para questioná-lo. “Governar a Polônia é um privilégio.”
Tusk obteve o apoio de 243 parlamentares, contra 210 votos em contrário.
Desde que o nacionalista Karol Nawrocki, hospedado pela legenda oposicionista PiS, venceu o segundo turno da eleição presidencial no país, na semana passada, o debate interno da coalizão se intensificou, com vários deputados expressando preocupação com o futuro do governo.
Por margem inferior a um ponto percentual dos votos, Nawrocki bateu o candidato de Tusk, Rafal Trzaskowski, o prefeito de Varsóvia. No sistema político polonês o presidente pode propor e vetar legislações, capacidade que tem paralisado a agenda reformista de Tusk, eleito premiê pela segunda vez em 2023 após oito anos do PiS no comando.
A coalizão de Tusk tenta reverter principalmente o desenho autocrático que o Judiciário do país ganhou com o partido populista, que se ausentou do Parlamento no momento em que Tusk discursava. Nada indica que Nawrocki fará diferente do atual presidente, Andrzej Duda, que tem exercido o poder de veto a despeito das reformas serem necessárias para a Polônia atender à legislação europeia.
No auge do PiS no poder, o país chegou a ser enquadrado no artigo 7 da União Europeia por afronta ao Estado de direito e perdeu milhões de euros em repasses. Tusk já conseguiu desbloquear os recursos, mas está contando com a tolerância de Bruxelas enquanto não completa o reequilíbrio institucional. O premiê também busca resgatar políticas sociais, como aborto e direitos da comunidade LGBTQIA+.
Nawrocki, que se gaba de ter sido boxeador amador e hooligan, afirmou à imprensa polonesa que pode concordar com um aumento do teto de isenção fiscal no país, algo que era promessa de campanha de Tusk. Ameaçou, inclusive, propor legislação sobre o tema se o governo não o fizer. “Não é conciliador?”, perguntou, de forma irônica.
Novato absoluto na política, Nawrocki tem um repertório antissistema, contra políticos e elites em geral, mas navega a cartilha básica do populismo europeu, com discurso anti-imigração e valores conservadores. Defende o papel estratégico da Polônia na guerra da Ucrânia, mas já teceu críticas a Zelenski, em linha com o pensamento de Donald Trump, que o recebeu na Casa Branca no começo de maio e impulsionou sua campanha. O historiador também desaprova a entrada do país vizinho na Otan.
Além da hostilidade presidencial, Tusk tem que lidar com a ascensão da extrema direita, que teve seu melhor desempenho nas urnas desde o fim do comunismo. As próximas eleições parlamentares estão previstas para 2027.
As dificuldades internas contrastam com a atuação internacional do primeiro-ministro, que devolveu a Polônia aos principais fóruns europeus após um longo período de isolamento e embates, à semelhança do que ocorre com a Hungria de Viktor Orbán.