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Dia mais importante de Trump 2 foi antes de sua eleição – 20/05/2025 – Ezra Klein

Vou romper os limites do prompt e dizer que o dia mais importante —ou pelo menos mais profético— do segundo mandato de Donald Trump aconteceu antes mesmo de ele começar. Foi em 15 de julho de 2024, o dia em que ele anunciou que J. D. Vance era sua escolha para vice-presidente.

Os segundos colocados foram Marco Rubio e Doug Burgum —representantes do Partido Republicano que existiam antes da campanha de Trump em 2016, escolhas que Trump poderia ter feito para tranquilizar os eleitores que duvidavam dele ou o temiam. Vance era do movimento Maga de uma forma que Rubio e Burgum não eram. Vance odiava todas as pessoas certas. Rubio e Burgum eram vistos como forças moderadoras; Vance se apresentava como um aceleracionista que acreditava que o maior problema do primeiro mandato de Trump era o fato de ele estar cercado de pessoas que, ocasionalmente, lhe diziam não. Vance foi o único dos três candidatos à vice-presidência a dizer que teria feito o que Mike Pence não fez: recusar-se a certificar o resultado da eleição de 2020.

Nos dias que antecederam a escolha de Trump, não havia muita impressão de que Vance estivesse na pole position. Relatórios posteriores revelaram uma campanha de lobby: Rupert Murdoch e seus aliados tentaram convencer Trump a não escolher Vance, assim como Ken Griffin, executivo-chefe da Citadel, e até mesmo Kellyanne Conway. Mas Trump foi influenciado por outras vozes: Don Jr., Elon Musk e Tucker Carlson, que teria dito a Trump que, se ele escolhesse Rubio ou Burgum, seria mais provável que fosse assassinado pelos inimigos do Maga.

Esse foi o momento em que pudemos ver a estrutura do primeiro mandato de Trump dando lugar à estrutura de seu segundo mandato. O primeiro governo de Trump era quase como um governo de coalizão europeu: Trump governou em uma aliança incômoda com um Partido Republicano que ele não controlava totalmente nem mesmo gostava, com uma comunidade empresarial na qual muitos o viam como um palhaço, com uma equipe que via parte de seu papel como refrear e conter os impulsos mais destrutivos do chefe, além de um estado administrativo que frequentemente resistia às suas exigências. Esse atrito frustrou Trump e muitos de seus aliados de primeiro mandato. Foi também por isso que as previsões mais terríveis para seu primeiro mandato não se concretizaram e por isso que muitos erroneamente previram que seu segundo mandato seguiria o mesmo roteiro.

Mas o segundo mandato de Trump nunca seguiria o mesmo roteiro porque tem uma estrutura completamente diferente. Este não é um governo de coalizão; é uma corte real. Trump está cercado por cortesãos que exercem influência desde que mantenham seu favor, e não por mais tempo. Quando foi a última vez que ele ouviu a palavra não ou que lhe disseram: “Sinto muito, senhor, mas não pode”? Em seu primeiro mandato, Trump procurou ou foi orientado a procurar conselheiros e nomeações que tranquilizassem muitos de seus céticos; em seu segundo mandato, ele valorizou os leais que farão o que lhes for ordenado e os executores que garantirão que os outros também se alinhem.

Apresentei esse argumento antes da eleição, e ele se mostrou verdadeiro: Uma das características fundamentais de Trump, para o bem e para o mal, é sua desinibição. Ele fará e dirá o que os outros dificilmente pensarão. Em seu primeiro mandato, essa desinibição estava em tensão com as pessoas ao seu redor que agiam como inibidores —uma equipe que estava disposta a pensar que ele estava errado ou até mesmo ridículo, um Partido Republicano no Congresso que não havia sido totalmente reconstruído em torno da lealdade e da bajulação. Para aqueles que acreditavam que seu primeiro mandato foi um sucesso, essa tensão foi essencial: Trump pressionou o Partido Republicano e a burocracia a considerar novas políticas e possibilidades, mas foi protegido para que não levasse adiante suas ideias mais estúpidas e destrutivas.

Em seu segundo mandato, Trump está cercado de “sim, senhor” e aceleracionistas. Sua equipe não tem interesse em questionar o Grande Aiatolá do Maga. Os republicanos do Congresso estão apresentando projetos de lei para oferecer a Trump um terceiro mandato ou esculpir seu rosto no monte Rushmore. As grades de proteção não existem mais. A escolha de J. D. Vance foi quando essa estrutura ficou clara. Ela revelou que o segundo mandato de Trump não ofereceria concessões, não conteria céticos. A ferocidade e a imprudência desta presidência foram planejadas.


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Fonte: Folha de São Paulo

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