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Desfile em Washington revela Pentágono obediente a Trump – 27/05/2025 – Mundo

No primeiro mandato de Donald Trump, o Departamento de Defesa se opôs à realização de um desfile militar em Washington, com a intenção de manter as Forças Armadas fora da política. No segundo mandato do republicano, essa barreira desapareceu —haverá um desfile este ano, e nada menos que no aniversário de 79 anos do presidente.

O plano atual envolve um cenário grandioso no centro da capital americana: 28 tanques M1A1 Abrams (os mais maiores pesando 70 toneladas cada); 28 veículos blindados de transporte de pessoal Stryker; mais de 100 outros veículos; um bombardeiro B-25 da era da Segunda Guerra Mundial; 6.700 soldados; 50 helicópteros; 34 cavalos; duas mulas; e um cão.

Para críticos, esse é mais um exemplo de como Trump politizou os militares.

O Exército estima o custo do evento entre US$ 25 milhões e 45 milhões (R$ 142 milhões e 255 milhões, aproximadamente). Mas o valor pode ser ainda maior, já que o Exército prometeu consertar quaisquer ruas da cidade que o desfile danificar, e pelo fato de limpeza e policiamento ainda não fazerem parte da estimativa.

Embora US$ 45 milhões sejam uma fração minúscula do orçamento de US$ 1,01 trilhão (R$ 5,7 trilhões) proposto por Trump para o Pentágono no ano fiscal de 2026, isso ocorre enquanto o governo tenta cortar financiamento para educação, saúde e assistência pública.

“É muito dinheiro”, reconheceu o porta-voz do Exército, Steve Warren. “Mas acho que esse valor é ofuscado por 250 anos de serviço e sacrifício do Exército americano.”

O Exército não está chamando o evento de desfile de aniversário para Trump. É o desfile de aniversário da instituição, formada oficialmente em 14 de junho de 1775, portanto há 250 anos. Essa data, porém, também coincide com o aniversário do republicano.

Não houve um grande desfile em Washington quando o Exército completou 200 anos em 1975, quando as cicatrizes da Guerra do Vietnã ainda eram recentes.

Embora comemorações menores tenham sido realizadas em bases do Exército por todo o país —acompanhadas de jantares, quartetos de cantores e cortes de bolo—, poucas pessoas queriam glorificar os militares após a repressão a uma manifestação na Universidade Estadual de Kent matar quatro estudantes. Além disso, o país estava se preparando para grandes celebrações do bicentenário no ano seguinte.

Se as coisas fossem igualmente discretas desta vez, a cidade de Fort Myers, no Condado de Arlington, Virgínia, poderia ser um local ideal. Ali, “a Velha Guarda poderia marchar com alguns veteranos”, disse o senador de Rhode Island Jack Reed, principal democrata no Comitê de Serviços Armados, ao se referir ao 3º Regimento de Infantaria, a unidade de infantaria mais antiga em serviço ativo do Exército.

“Mas este é Trump”, acrescentou Reed a jornalistas na semana passada. “É consistente com muito do que ele está fazendo.”

Militares dizem que o desfile passará em frente ao palanque de Trump na Constitution Avenue, perto da Casa Branca, na noite de sábado, 14 de junho, como parte de uma grande celebração no National Mall, principal parque de Washington.

Tropas serão alojadas em dois edifícios governamentais, dormirão em camas militares e trarão seus próprios sacos de dormir, segundo esses funcionários.

Haverá Paladins, os enormes obuseiros autopropulsados, e referências a um estilo vintage —militares querem equipar algumas tropas com uniformes de guerras de muito tempo atrás, como a de 1812 ou a da Guerra Hispano-Americana.

O Exército planeja os detalhes nacionais, globais e até interestelares da celebração há mais de dois anos —um astronauta do Exército na Estação Espacial Internacional fará uma chamada, disse Warren. Mas esses eventos consistiam em festivais, selo postal, corridas, bandas militares e outras coisas do tipo. Em algum momento deste ano, disseram funcionários do Exército, um desfile militar em Washington apareceu nos planos.

Ainda assim, os militares dizem que não há planos no momento para cantar parabéns a Trump ou para o próprio Exército. Um plano, no entanto, prevê que paraquedistas dos Golden Knights, a equipe de paraquedismo do Exército, pousem em meio às festividades e entreguem uma bandeira ao presidente.

A ideia pode ter surgido em 2017. Naquele ano, durante seu primeiro mandato, Trump assistiu ao desfile do Dia da Bastilha com o presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris, e voltou para casa querendo o seu próprio. Mas, na ocasião, o Pentágono o impediu. O secretário de Defesa da época, Jim Mattis, disse que “preferiria engolir ácido”, de acordo com “Holding the Line” (mantendo a linha, sem tradução no Brasil), livro de Guy Snodgrass, ex-redator de discursos do general.

O então vice-presidente do Estado-Maior Conjunto, Paul J. Selva, disse ao republicano durante uma reunião no Pentágono que desfiles militares eram “o que ditadores fazem”, de acordo com o livro The Divider” (o divisor, também sem tradução), de Peter Baker, repórter do The New York Times, e Susan Glasser.

Quando Mattis saiu, Trump ressuscitou a ideia. O sucessor de Mattis, Mark T. Esper, respondeu com um “desfile aéreo” como parte das celebrações de 4 de julho de 2020, disseram funcionários do Pentágono. Uma série de caças e outros aviões de guerra sobrevoou a Costa Leste sobre cidades que desempenharam papéis na Revolução Americana, incluindo Boston, Nova York e Filadélfia.

Houve grandes desfiles militares americanos no passado, mas o último foi há quase 35 anos, para comemorar o fim da primeira Guerra do Golfo. Desfiles militares nos Estados Unidos tradicionalmente seguiram o fim de grandes conflitos, como a Guerra Civil e as duas Guerras Mundiais. Também houve desfiles militares durante três posses presidenciais durante a Guerra Fria. E festividades de pequenas cidades às vezes também comemoram os militares com alguns veículos blindados e tropas.

“Na verdade, não vejo problema em um desfile militar”, disse Kori Schake, ex-funcionária de defesa na gestão de George W. Bush que dirige estudos de política externa no American Enterprise Institute. Segundo Schake, mais americanos precisam ver as tropas que servem ao país. “Se ver nossos compatriotas americanos em uniforme incentiva o conhecimento e a conexão pública, ou inspira o voluntariado, seria benéfico.”

No final das contas, “os militares não morrerão nessa batalha mesmo que não gostem”, disse Peter Feaver, professor de ciência política na Universidade Duke que estuda os militares há décadas. “A equipe 2.0 de Trump é melhor em dar ao presidente o que ele quer, independentemente de ser o melhor a longo prazo.”

Fonte: Folha de São Paulo

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