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Denúncias contra Fernández põem fim melancólico a legado – 10/08/2024 – Sylvia Colombo

“Estou muito feliz de ter colocado fim ao patriarcado”, dizia o então presidente peronista Alberto Fernández, sorridente, num ato em 14 de janeiro de 2021, no Museu do Bicentenário, em Buenos Aires.

Ele celebrava o fato de ter sido em sua gestão, e com o apoio do Executivo, que o Congresso argentino tinha aprovado a interrupção da gestação apenas por decisão da mulher, até a 14ª semana, de modo gratuito e na rede pública de saúde. A Argentina dava um passo adiante no que diz respeito às conquistas dos direitos das mulheres —passo este que países como Brasil e Chile, por exemplo, ainda estão longe de dar.

Além disso, em sua campanha eleitoral, em 2019, Fernández havia colhido o apoio dos movimentos dos “lenços verdes”, distintas correntes feministas que tinham levado adiante a pressão pela aprovação de legislações que também protegessem as mulheres da violência machista.

Na Argentina, afinal, havia nascido o movimento Ni Una Menos, hoje uma ONG presente em vários países. Sua primeira marcha histórica teve lugar em 2015, mesmo ano de seu surgimento, e reuniu milhares de mulheres em mais de 80 cidades argentinas.

O movimento foi tão abrangente que incluiu até mesmo as Desobedientes, grupos de mulheres que eram filhas de repressores dos anos de chumbo que haviam cortado relações com seus pais, vinculados a crimes da ditadura, para reivindicar políticas de proteção aos direitos humanos e em favor de mulheres vítimas de violência física.

Foi defendendo o acesso ao aborto em alto e bom som, em debates e na campanha, que Fernández desbancou Mauricio Macri, então presidente e candidato à reeleição.

O início da gestão de Fernández começou abençoado pelos movimentos feministas.

Qual não foi o susto e a revolta nos últimos dias quando veio a público uma denúncia daquela que tinha sido sua companheira nos anos em que foi presidente.

Fabíola Yáñez, que hoje vive na Espanha junto com o filho de três anos do casal, afirmou em uma audiência ante a um juiz, por teleconferência, ter levado surras contínuas do ex-presidente na Residência de Olivos.

Além disso, disse que era obrigada a dormir na casa de hóspedes da propriedade, e que foi forçada a cancelar participações em atos por ter o rosto desfigurado.

Yáñez também mostrou trechos de mensagens de Fernandéz em que ele dizia ter tomado essas atitudes porque “não estava bem”. A Residência de Olivos estava naquela época no olho do furacão pois, embora o presidente determinasse medidas de quarentena super duras da porta para a fora, portas adentro havia festas, brindes e mesmo encontros, segundo testemunhas, do peronista com outras mulheres.

Junto às chocantes imagens de abuso físico de Yáñez, também vazou um vídeo que mostra uma amiga de Fernández tomando cerveja com ele no gabinete presidencial no qual ambos dizem “eu te amo” um ao outro.

Obviamente, o que cada mandatário faz com sua vida particular é apenas de sua alçada. Porém, esse caso excede todos os limites.

Foi em espaços destinados ao exercício do governo que teriam sido cometidos delitos graves, como as surras em Yáñez, enquanto o presidente se deleitava com a presença de uma outra mulher, ingerindo álcool em seu escritório oficial de governo.

A seu sucessor, o ultradireitista Javier Milei, o escândalo é um presente, um argumento a mais para dizer como o “governo comunista” que o antecedeu, além de ineficaz, terminou banhado em constrangimento.

Para dizer o mínimo, um melancólico fim a um mandato sem destaques, que agora beira a vergonha.


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Fonte: Folha de São Paulo

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