A investigação começou em julho de 2011 com o recrutamento de mulheres grávidas em Melbourne, Austrália. As participantes, que no início da pesquisa estavam no primeiro trimestre da gravidez, foram acompanhadas até abril de 2021. A partir dessa seleção, 549 crianças foram incluídas na análise.
Imagens 3D da região da face dos menores foram capturadas quando eles tinham 12 meses e, igualmente, aos 6 e 8 anos de idade. Parte dessas crianças foram expostas ao álcool quando ainda eram embriões, e outra parte, não.
Com base nas imagens capturadas e comparando as crianças, a pesquisa concluiu que aquelas as quais as mães ingeriram álcool, mesmo em doses pequenas, durante a gestação apresentaram maior probabilidade de deformações nas regiões dos olhos e do nariz.
No entanto, não houve uma correlação entre a quantidade de álcool e o aparecimento das alterações, aspecto que é explicado por Evelyne Muggli, do Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch, localizado na Austrália, e uma das autoras do artigo.
“A relação exata entre o nível de exposição ao álcool e o desenvolvimento facial em humanos é difícil de estabelecer. É improvável que seja linear. Quaisquer efeitos dependem do estágio, e até mesmo do dia, do desenvolvimento fetal, do nível de exposição naquele momento específico, bem como de outros fatores, como a duração da ocasião de consumo de álcool”, diz.
Muggli também explica que o rosto de um embrião começa a ser moldado entre os 17 e 18 dias após a fertilização. Nesse momento, muitas pessoas nem sabem que estão grávidas, o que resulta em um possível consumo de álcool.
“Estudos em camundongos mostram que se o embrião for exposto ao álcool durante esse período, isso pode afetar o desenvolvimento dessas características faciais em diferentes estágios, dependendo de quando a exposição acontece na gravidez. Isso pode levar a diferenças na aparência do rosto”, continua a pesquisadora.
Essas alterações na face podem ser indicativo de complicações na formação do cérebro, já que o desenvolvimento de ambos são interligados. Na pesquisa em questão, no entanto, isso não foi observado. “Avaliamos as crianças do nosso estudo aos dois anos e no início da idade escolar e não encontramos diferenças significativas em seu desenvolvimento”, afirma Muggli.
Mas isso não é um indicativo que a conclusão de Muggli e dos outros autores deve ser descartada. A pesquisadora reitera que “nossas descobertas mostram que a exposição está ligada a mudanças no desenvolvimento fetal em um nível biológico”.