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Como a desinformação sobre apoio do Brasil ao Irã se intensificou com início da guerra e viralizou nas redes – 04/07/2025 – Mundo

Campanhas de desinformação surgiram e foram disseminadas nas redes sociais depois do início do conflito entre Irã e Israel. Perfis produziram e compartilharam conteúdos sobre um suposto apoio bélico do Brasil ao Irã descontextualizando falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e criando afirmações inexistentes.

As peças de desinformação, como publicou o Comprova, começaram a circular logo no início da guerra, em 13 de junho. O conteúdo inventava que o governo brasileiro teria fornecido urânio para o Irã e exportado o metal para fins bélicos, o que não é verdade. Diversos perfis compartilharam publicações com teor semelhante, ajudando a disseminar a mentira.

O boato teve outros desdobramentos. Posts afirmaram falsamente que Israel confirmou o envio do urânio brasileiro, descontextualizando uma fala do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, em que ele afirmava que Lula deveria ter “vergonha”. A declaração, no entanto, aconteceu em 2024, após o petista comparar as ações de Israel em Gaza ao Holocausto na Segunda Guerra.

As publicações sobre urânio ganharam tração ao serem compartilhadas por figuras públicas, como o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Logo depois da mentira sobre o urânio, outras se disseminaram. Três dias depois, em 16 de junho, desinformadores espalharam o boato, também falso, de que Lula poderia enviar militares brasileiros para lutar pelo Irã.

Em comum, ambos os posts usam linguagem emocional e alarmismo. Trechos como “Lula ladrão”, “traição silenciosa” e a insinuação de que “a esquerda vai fingir que não aconteceu” aparecem no conteúdo sobre urânio. O do envio de militares segue a mesma linha, usando trechos como “nossos jovens irão lutar”, “crise sem precedentes” e “o clima esquentou em Brasília”.

Outro ponto em comum de posts falando sobre urânio e sobre Lula apoiar o Irã é que são publicados por perfis bolsonaristas, que exaltam pautas da direita e que, em geral, defendem políticas dos Estados Unidos e apoiam Israel.

Sobre isso, André Pase, professor da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), diz ser uma forma de a direita se fortalecer, fazendo com que apoiadores tenham raiva —ou mais raiva— de Lula. “É uma pequenina peça no tabuleiro eleitoral, jogada em um momento sem urnas.”

Para Beto Vasques, professor de comunicação política da Fespsp (Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e diretor de Relações Institucionais do Instituto Democracia em Xeque, os posts inventando que Lula estaria dando apoio bélico ao Irã seguem o alinhamento da direita com Israel e o fato de que, “hoje em dia, tudo vira motivo de polarização”. “Acontecesse o que fosse, Bolsonaro apoiaria Israel. E Lula tem uma posição já muito firme contra o Netanyahu, que disse que ele é uma “persona non grata”. Então, há uma relação muito fácil para esse alinhamento”, afirma.

Além de serem perfis bolsonaristas e usarem linguagem de alarmismo, os perfis que disseminam desinformação usam técnicas semelhantes. Entre as principais, Pase cita estratégias visuais, como conteúdos tentando imitar veículos de imprensa e imagens montadas para chamar a atenção, quase como uma lógica de meme, acompanhadas de um texto mentiroso.

Ele menciona ainda a informação verdadeira tirada de contexto. “Essa foi uma das que apareceu muito agora, trazendo um discurso antigo do presidente e mostrando como se fosse atual. É complicado, porque deixa o público com o pensamento ‘se foi assim no passado, e agora?’”, afirma Pase.

Outra característica em comum dos perfis é que costumam publicar informações sem citar a fonte. “As pessoas não estão buscando mais a verdade. Numa dinâmica onde a política é levada para o campo dos afetos, do nós contra eles, o que as pessoas querem é a validação. As evidências de que houve ou não venda de urânio pouco importam”, diz Vasques.

A apuração desse conteúdo foi feita por Folha e Correio Braziliense e publicada em 7 de julho pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por UOL, Jornal do Commercio, Estadão e NSC.

Fonte: Folha de São Paulo

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