Estudar na China tem sido um desejo crescente de brasileiros. O número de candidatos em cursos de diversas instituições de ensino superior do país asiático disparou, conta William Guey, 25, doutorando em engenharia industrial na Tsinghua e integrante da equipe de admissão de alunos estrangeiros da universidade chinesa.
“Você vê um aumento de interesse muito grande, não só do Brasil, mas do mundo inteiro, como alternativa aos Estados Unidos, à Europa“, diz. “No meu departamento, cresceu acima de três vezes desde a pandemia.” O resultado é a maior concorrência pelas vagas.
Em movimento contrário à gestão de Donald Trump, que tenta vetar o ingresso de estudantes internacionais, o governo da região de Pequim quer mais e na última quinta (5) enviou para a América Latina uma delegação atrás de estudantes.
Primeiro na Cidade do México, depois em São Paulo, vão montar feiras com representantes que vão desde a prestigiosa Universidade de Pequim até, inusitadamente, escolas secundárias da capital. Nesta terça (10), ocorre na ESPM, em São Paulo, a Estude em Pequim, restrita a instituições da capital chinesa, inclusive menos conhecidas dos brasileiros, como a Universidade Médica e o Instituto de Tecnologia de Pequim.
A ação acontece três semanas após o Fórum China-Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos), em que o líder Xi Jinping anunciou a distribuição de 3.500 bolsas e a isenção de visto de turismo e negócios para o Brasil e outros países, como parte do programa de amizade com a região.
O fluxo crescente de estudantes estrangeiros para a China é um movimento anterior a essa oferta de bolsas e também ao cerco dos últimos governos americanos às suas próprias universidades. O efeito das medidas americanas já pode ser sentido, mas sobre os próprios jovens chineses, segundo Guey, que é de família chinesa. “Os que planejavam estudar fora estão cada vez mais querendo ficar na China, porque [nos EUA] é instável, seu visto pode ser revogado a qualquer momento por instabilidade política.”
Ele cita como vantagens de estudar na China o custo comparativamente baixo, a quantidade de cursos em inglês para os estrangeiros e a ascensão chinesa nos rankings acadêmicos globais.
Os gastos com alimentação são mínimos e, no caso das principais universidades, os alunos podem ter residência no campus. “Se você fica na bolha da universidade, até o refeitório é subsidiado, mas a China também é, vamos dizer, uma armadilha para gastar dinheiro, porque é tão fácil comprar”, afirma Guey, citando os aplicativos de comércio eletrônico.
Sobre o temor de dificuldade com a língua chinesa, ele responde que Pequim tem cerca de 15 cursos “totalmente em inglês”, e a sua própria universidade tem mais de 20.
Guey diz que a maioria dos estudantes brasileiros está em Pequim ou Xangai, e mais recentemente há um fluxo para a Universidade de Zhejiang —segundo ele, em parte pelo fato de a instituição ficar em Hangzhou, hoje a cidade chinesa que simboliza alta tecnologia. É sede da DeepSeek, criadora do célebre modelo de inteligência artificial, da Unitree, que produz os robôs humanoides mais conhecidos, e dos criadores do game Black Myth: Wukong.
O evento desta terça em São Paulo se une a outros esforços recentes de intercâmbio estudantil com a China, inclusive do Rotary, organização internacional agora presidida por um brasileiro, Mário César de Camargo, que esteve no início do ano em Pequim e lançou programa parecido.
Na ESPM, serão 15 estandes com profissionais para esclarecer dúvidas, não apenas sobre os cursos, mas acomodação, taxas e oportunidades de carreira posterior.
Para além da presença física, a feira é apoiada pelo portal Study in Beijing, criado pelo governo da capital para apresentar 92 universidades e institutos de pesquisa, inclusive em português, e linkar os sites específicos.
Feira Educacional Estude em Pequim, China – terça (10), das 10h às 16h, na ESPM – rua Dr. Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana, São Paulo
