Em uma consulta de apenas um dos lados, a esquerda do Chile vai saber neste domingo (29) quem a representará nas eleições presidenciais de 16 de novembro, com a disputa principal ficando entre duas ex-ministras do governo de Gabriel Boric: a social-democrata Carolina Tohá e a comunista Jeannette Jara.
Quem ganhar vai ser a escolhida da atual coalizão no governo para travar uma batalha dura pelo Palácio de La Moneda, enfrentando nomes da direita, caso da economista Evelyn Matthei e do ex-deputado José Antonio Kast.
As primárias também devem selar o futuro da coalizão de esquerda após o governo Boric, que vai até março de 2026, sem possibilidade de reeleição consecutiva. A vitória de qualquer uma das duas ex-ministras muda o atual equilíbrio de forças da esquerda chilena, desidratando ainda mais a Frente Ampla, do presidente.
Diferentemente do que ocorreu na campanha pelo segundo mandato da socialista Michelle Bachelet, em 2013, após o mandato de Sebastian Piñera e que trabalhou no eleitor o sentimento de mudança de rumo por meio de uma figura familiar, o momento atual da esquerda chilena é de busca por uma nova liderança com capacidade de somar aliados.
Após uma derrota amarga na reforma constitucional, em 2022, o governo Boric vem retomando forças desde o começo do ano, ao emplacar um projeto de reforma do sistema previdenciário, o que poderia tornar a esquerda novamente competitiva em novembro.
Tohá e Jara aparecem como favoritas, de acordo com um agregador de pesquisas da Celag.
Por um lado, Tohá tem o desafio de revitalizar a centro-esquerda, que se tornou menos relevante desde o fim do governo de Bachelet, enquanto acena para o eleitor de centro ao defender a governabilidade.
Jara, por sua vez, é vista como uma força em ascensão no Partido Comunista, mostrando ter um estilo mais moderado e contrário à postura mais confrontadora de outro expoente do partido, Daniel Jadue, que era o favorito nas últimas primárias, mas perdeu a indicação para Boric.
As eleições primárias não são de participação obrigatória. A organização é do Servel (Serviço Nacional de Eleições), as regras são definidas pelos próprios participantes e há um período legal de propaganda com financiamento público de campanha.
Os eleitores vão receber uma cédula com os nomes dos quatro candidatos da coalizão “Unidade pelo Chile”. Além de Tohá e Jara, estão na disputa Gonzalo Winter (Frente Ampla) e Jaime Mulet (Federação Social Regionalista Verde).
Nas primárias chilenas, podem votar todos os cidadãos maiores de 18 anos que são independentes (não filiados a um partido político) e os que são filiados a partidos políticos que estão concorrendo.
Em 2021, quando a vitória de Boric pela esquerda surpreendeu os analistas, a participação do eleitorado foi baixa, com 19,9% de comparecimento. Ao contrário de agora, a direita tradicional também participou daquelas primárias.
Apenas os partidos que compõem o governo irão às primárias; os partidos da oposição não chegaram a acordos para participar. Membros de partidos que não vão estar nas primárias não poderão votar.
A oposição de direita hoje aparece como favorita para ganhar a Presidência, também de acordo com o agregador de pesquisas da Celag —que ainda mostra os nomes da esquerda concorrendo entre si, sendo portanto um cenário ainda em construção.
Matthei (da coalizão Chile Vamos), e principal expoente da direita tradicional, aparece em primeiro lugar, com 19% da preferência. Ela é seguida de perto por Kast (Partido Republicano), da ultradireita, com 17,7%. Ele foi candidato à Presidência em 2021, quando foi para o segundo turno com Boric e alcançou 44% dos votos.
Além da Presidência, em 16 de novembro os chilenos vão renovar as 155 cadeiras da Câmara dos Deputados (para mandatos de quatro anos), e 23 das 50 cadeiras no Senado (para oito anos). As outras 27 vagas de senadores estarão em disputa no ano de 2029.
As favoritas na esquerda chilena
- Carolina Tohá, 59, cientista política, foi ministra do Interior, ministra chefe de Governo e deputada da gestão de Gabriel Boric. Está no Partido pela Democracia e tem perfil mais moderado;
- Jeanette Jara, 50, administradora pública e advogada, foi ministra do Trabalho e subsecretária de Previdência Social do atual governo. É considerada figura em ascensão no Partido Comunista