spot_img
HomeMundoCessar-fogo entre Israel e Irã não deve ser paz duradoura - 24/06/2025...

Cessar-fogo entre Israel e Irã não deve ser paz duradoura – 24/06/2025 – Mundo

“A guerra de 12 dias” tem um certo charme. Ao dar esse título ao conflito entre Irã, Israel e os Estados Unidos, Donald Trump está fazendo duas coisas.

Primeiro, o presidente americano está tentando traçar uma linha definitiva para os combates. Segundo, ele está sugerindo que os 12 dias de conflitos serão um momento de reordenação para o Oriente Médio —semelhante à Guerra dos Seis Dias de 1967, na qual Israel derrotou Egito, Síria e Jordânia.

Alguma dessas afirmações resistirá ao teste do tempo? Horas após o anúncio do cessar-fogo feito por Trump, Israel acusou o Irã de violá-lo —e prometeu uma resposta contundente. Trump, por sua vez, deu uma resposta com palavrão para que ambas as partes recuassem.

A disposição do presidente em criticar o governo israelense devido a uma “grande violação” do acordo de cessar-fogo foi uma ruptura marcante com a tendência dos EUA de tratar Israel com luvas de pelica —trazendo as tensões entre Washington e o premiê Binyamin Netanyahu a público.

Pode ser que este seja apenas um caso de dois lutadores trocando uma última série de golpes depois do sino —e que o pior dos combates realmente acabou. Alternativamente, a proclamação de paz feita por Trump pode se revelar um pensamento otimista —sublinhando mais uma vez que os EUA não têm controle sobre os acontecimentos na região.

Embora o cessar-fogo seja claramente frágil, é um sinal plausível de que o conflito está diminuindo. Mesmo assim, isso provavelmente marca mais uma pausa nas hostilidades entre Israel e Irã, em vez do novo começo definitivo que Trump está buscando.

A República Islâmica do Irã está claramente muito abalada. Mas, por enquanto, ainda está intacta. Em vez de mudar a visão de mundo da liderança iraniana, o conflito terá confirmado suas suposições subjacentes —que Israel e os EUA são inimigos muito perigosos.

Como resultado, a liderança iraniana agora buscará maneiras de reconstruir sua força militar e legitimidade doméstica. Vali Nasr, autor de “A Grande Estratégia do Irã”, argumenta que o regime “não tem a mentalidade de dizer que não pode lidar com a ameaça de Israel”.

Reconstruir o programa nuclear e de mísseis balísticos do Irã —e sua rede de representantes regionais— será muito difícil; mas talvez não impossível. E o Irã agora também tem todos os incentivos para procurar novas formas de revidar contra Israel.

Na visão de Nasr, a maior vulnerabilidade do regime agora é a população. Os esforços para reconstruir uma base de apoio doméstico provavelmente se concentrarão em apelos ao nacionalismo diante de uma ameaça externa.

Sem uma mudança de regime no Irã —ou uma mudança definitiva de mentalidade— o aparente triunfo de Israel na guerra de 12 dias estará longe de ser garantido. Os israelenses demonstraram capacidades militares e de inteligência extraordinárias. Mas também mostraram que, em última instância, ainda dependem dos EUA para concluir o trabalho.

Como a República Islâmica não está derrotada de forma definitiva, Israel e os EUA precisam encontrar formas alternativas para garantir a paz na região.

Mas, após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, a busca pela paz saiu de moda em Israel. O governo Netanyahu e a maioria de seus possíveis sucessores parecem comprometidos com uma estratégia de segurança nacional baseada na hegemonia regional. Isso foi estabelecido por enquanto.

Mas, para um país de dez milhões de pessoas, em uma região de várias centenas de milhões, isso sempre permanecerá uma conquista tênue.

Trump está claramente determinado a entrar para a história como um pacificador —e recentemente reiterou sua opinião de que deveria receber o Prêmio Nobel da Paz. As pessoas ao redor do presidente há muito tempo querem expandir os Acordos de Abraão, assinados em Washington durante o primeiro mandato de Trump, que normalizaram as relações de Israel com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão.

Mas normalizar as relações entre Israel e Irã —dois países que acabaram de travar uma guerra e que continuam sendo inimigos amargos— será incomparavelmente mais difícil. A equipe de Trump também tem pouca força diplomática. Nem Marco Rubio nem Steve Witkoff —o secretário de Estado dos EUA e o enviado especial, respectivamente— parecem ser versões modernas de Henry Kissinger.

A evocação de Trump à memória da Guerra dos Seis Dias de 1967 é ambígua. Seis anos depois, em 1973, Israel estava novamente em guerra com o Egito e a Síria.

Fonte: Folha de São Paulo

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -spot_img

Outras Notícias