“Minha filha foi um milagre, ela cumpriu a missão dela aqui na terra”. A fala enlutada e que busca amenizar a dor em busca de conforto é do advogado João Victor da Silva, que perdeu a filha recém-nascida para a dengue, nesta semana. Bella Victoria Ferreira Nunes nasceu em 17 de fevereiro, após uma gestação de 39 semanas, com anencefalia, uma má-formação no cérebro.
Dentro do possível considerando a má-formação, a bebê teve alta da maternidade e a família seguiu para casa, passando a viver a rotina normal a partir da chegada de uma criança recém-nascida, até que uma febre acendeu um sinal de alerta. “Minha filha estava normal e quando apresentou sintomas já fomos à emergência. Foram 20 dias bem e dois dias com dengue”, disse o advogado.
| Bebê nasceu com 39 semanas. Foto: Cortesia ao TNH1 |
Com sintomas de dengue, a menina foi levada para um hospital particular de Maceió. Ela deu entrada às 5h do dia 09 deste mês e recebeu alta horas depois, às 14h30. A suspeita de dengue da família, segundo o pai, foi descartada pela equipe médica, que receitou hidratação e uso de tylenol.
“No hospital disseram inicialmente que era uma virose, mesmo ela com sintomas como diarreia e febre. Em casa fizemos administração da medicação, mas a febre piorou e voltamos ao hospital por volta das 23h e ela foi encaminhada à UTI pelo médico com urgência”, relata João.
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| Criança apresentava sintomas como diarreia, manchas na pele e febre. Foto: Cortesia ao TNH1 |
Nas primeiras horas de domingo (10), os pais da menina receberam uma ligação do hospital com a notícia que nenhum deles queria receber. ” Nos ligaram na madrugada e informaram que ela teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu “, lamentou.
Os pais de Bella seguiram ao hospital para o procedimento de liberação do corpo da bebê, quando se deparam com mais um problema, conforme conta o advogado. “Tinha negligenciado a dengue e colocaram como causa morte a anencefalia, mas depois o bom senso falou mais alto e o documento foi retificado”. O atestado de óbito consta que a criança morreu de dengue hemorrágica, dengue aromatase e anencefalia. A bebê foi sepultada no Memorial Parque Maceió, no Benedito Bentes.
Passado o sepultamento, o pai da criança junta forças para chamar atenção à gravidade da dengue. “Quero mostrar que a dengue está matando e que o poder público está sendo omisso”, denuncia.
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| Piscina do prédio onde a família reside, segundo o pai da criança, tinha focos de dengue. Foto: Cortesia ao TNH1 |
O advogado disse ao TNH1 que encontrou focos de mosquito da dengue no prédio onde a família reside, no bairro Ponta Verde, em Maceió. “Nossa filha estava sempre protegida, ficava me perguntando de onde surgiu esse mosquito, até que fui na piscina do prédio e encontrei uma água verde, cheia de focos da dengue”, disse, acrescentando que acionou o Disque Dengue, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para denunciar o que chamou de negligência. “Também registrei um Boletim de Ocorrência em nome do síndico que representa o condomínio e nesta sexta-feira denunciei o caso no Ministério Público”, completa o pai da menina, dizendo que vai seguir buscando justiça.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), que informou ainda não ter registrado, até o meio-dia desta terça-feira, mortes causadas pela dengue. Há, no entanto, três óbitos suspeitos de dengue investigação, um deles seria o da menina Bella Victoria. Leia a nota abaixo na íntegra:
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informa que nenhum óbito foi confirmado em Alagoas, três mortes estão em investigação. O órgão estadual reforça que, em casos de suspeita de dengue, ao apresentar sintomas da doença como febre alta, manchas avermelhadas pelo corpo, dor atrás dos olhos, as pessoas devem procurar as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), ou as Unidades de Pronto Atendimento (UPASs).
