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Ataques dos EUA e de Israel põem à prova futuro do TNP – 23/06/2025 – Mundo

Enquanto os Estados Unidos celebram o ataque às instalações nucleares iranianas realizado no domingo (22), a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) cobra acesso aos locais atingidos, e especialistas alertam que ainda é cedo para avaliar os efeitos da ofensiva.

O Irã sinalizou que pretende suspender sua cooperação com a AIEA, nesta segunda-feira (23). O presidente do Parlamento iraniano, Mohammad Bagher Ghalibaf, afirmou que o Legislativo pretende aprovar um projeto de lei com esse objetivo. Segundo ele, a agência da ONU atua com “falta de objetividade e profissionalismo”.

Veja a fortaleza nuclear de Fordow antes e depois do ataque

A imagem mostra uma vista aérea de uma instalação em uma área montanhosa. A estrutura principal é um edifício retangular branco localizado na parte inferior da imagem. Estradas se entrelaçam ao redor da instalação, formando um contorno que parece ser uma cerca ou limite. O terreno é árido e montanhoso, com várias formações rochosas visíveis ao redor.

Imagens de satelite mostram a central nuclear subterrânea de Fordow, no Irã, antes e depois de se alvejada por seis superbombas neste domingo pelos EUA

Maxar Technologies/AFP

A tensão entre Teerã e a agência da ONU já vinha se agravando. No início de junho, antes dos bombardeios, a AIEA aprovou uma resolução condenando a falta de cooperação iraniana com relação ao seu programa nuclear. Embora o órgão não tivesse identificado indícios de um “programa sistemático” para produzir armas atômicas, a estagnação nas inspeções era vista com preocupação.

Desde que Israel bombardeou instalações nucleares iranianas em 13 de junho, a AIEA, responsável por fiscalizar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), está impedida de realizar inspeções no país.

Abaixo está um panorama sobre o paradeiro do estoque de urânio enriquecido a 60% e dos atuais limites de atuação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Onde está o urânio enriquecido?

Os bombardeios tiveram como alvos três instalações-chave onde oficialmente se processa o urânio enriquecido: Fordow, Natanz e Isfahan.

Foram constatados danos significativos e a AIEA está preocupada com as reservas de 408,6 kg de urânio enriquecido a 60% que seu pessoal viu pela última vez em 10 de junho. Esse volume, se fosse enriquecido a 90%, poderia servir para fabricar mais de nove armas nucleares.

Imagens de satélite mostram a movimentação de veículos perto de um dos acessos subterrâneos de Fordow antes do ataque americano. Visto que o urânio enriquecido é armazenado em pó dentro de recipientes, pode ser facilmente transportado em um veículo.

Terá sido transferido? O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse ter “informação interessante” a respeito, mas se negou a dar mais detalhes.

Se efetivamente foi removido, “será difícil, se não impossível, rastrear sua localização”, explicou à AFP Kelsey Davenport, especialista da Arms Control Association. Segundo ela, é “cedo demais para afirmar que os ataques americanos foram um sucesso”.

O Irã ainda pode conseguir a bomba nuclear?

Das mais de 20 mil centrífugas que o Irã teria, muitas foram danificadas em Natanz, segundo Grossi. Ele também mencionou possíveis “danos muito importantes” em Fordow, onde os equipamentos são extremamente sofisticados e sensíveis a vibrações, devido às explosões e à delicadeza dessas custosas máquinas usadas para enriquecer urânio.

No entanto, nem todas as centrífugas estão registradas. Algumas foram armazenadas em locais desconhecidos nos últimos anos, em um contexto de deterioração na cooperação com a AIEA, segundo especialistas. “Com urânio enriquecido a 60% e poucas centenas de centrífugas, o Irã ainda pode desenvolver rapidamente uma arma nuclear”, alertou Davenport.

A AIEA já teve mais poderes no passado?

Sim. Um acordo de 2015 entre o Irã e grandes potências impôs limites rigorosos às atividades nucleares de Teerã e também ampliou a supervisão da AIEA para áreas como a produção e o estoque de centrífugas. Foi a supervisão mais abrangente já implementada pela AIEA em qualquer país.

Grande parte desse monitoramento adicional veio do fato de o Irã ter concordado, como parte do acordo de 2015, em aplicar o Protocolo Adicional —um complemento para reforçar sua capacidade de prevenir a proliferação nuclear. O Irã assinou, mas nunca ratificou o Protocolo Adicional.

Uma das ferramentas mais importantes que o Protocolo Adicional dá à AIEA é a capacidade de realizar inspeções surpresa —com pouco aviso prévio, inclusive em locais não declarados como nucleares.

Por que esses poderes mais amplos não existem mais?

Em 2018, durante seu primeiro mandato, o então presidente dos EUA, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 e reimpôs sanções que haviam sido suspensas. Em retaliação, a partir do ano seguinte, o Irã começou a ultrapassar os limites estabelecidos pelo acordo quanto às suas atividades nucleares e também reduziu a supervisão extra da AIEA.

Em fevereiro de 2021, o Irã anunciou que não cumpriria mais seus compromissos adicionais previstos no acordo de 2015, incluindo a aplicação do Protocolo Adicional. Ainda assim, fechou um acordo com a AIEA para manter em funcionamento equipamentos de monitoramento, como câmeras de vigilância instaladas sob o acordo —mas mandou removê-los em junho de 2022.

Quais os riscos de proliferação?

Antes do conflito, a AIEA não tinha detectado indícios de um “programa sistemático” para produzir uma arma nuclear e o Irã sempre negou ter tais intenções. A agência está amplamente restrita a inspecionar instalações nucleares declaradas pelo Irã, conforme previsto em 1974 —locais como as três usinas de enriquecimento de urânio em Natanz e Fordow, que estavam operando até serem bombardeadas por Israel em 13 de junho.

Desde então, elas foram fechadas e os inspetores não foram autorizados a entrar, segundo a própria agência, que afirmou esperar retomar as inspeções o quanto antes. Se prosseguirem as hostilidades, “o regime de não proliferação tal como o conhecemos poderia desmoronar”, advertiu Grossi.

O que acontece se o Irã sair do Tratado de Não Proliferação?

O Irã já ameaçou se retirar do TNP, embora tenha dito, ao mesmo tempo, que não desenvolveria armas nucleares mesmo se o fizesse. Teerã reclama que o tratado e o regime de não proliferação falharam em protegê-lo de ataques de um país com arsenal nuclear —os Estados Unidos— e de outro amplamente considerado como possuidor de tais armas —Israel.

O TNP permite a retirada de um país com aviso prévio de três meses, “caso decida que eventos extraordinários, relacionados ao objeto deste Tratado, tenham comprometido os interesses supremos de seu país”.

Fonte: Folha de São Paulo

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