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Argentina: Trauma de atentados pesa aval de Milei a Israel – 26/06/2025 – Mundo

Os cerca de 14 mil km de distância que o separam da região não impediram o presidente Javier Milei de manifestar aprovação pela entrada dos Estados Unidos no conflito com o Irã e reafirmar apoio total a Israel, algo que começa a gerar preocupações na Argentina.

Não é para menos. O país latino ainda guarda as marcas de um trauma: os dois atentados, à embaixada de Israel e à Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), em Buenos Aires, em 1992 e 1994, que resultaram em 114 mortes. A lembrança dos ataques está em séries de TV, filmes, em uma estação de metrô portenha e em um memorial da rua Pasteur, no bairro de Balvanera.

No ano passado, a Justiça responsabilizou o Irã pelas explosões. O Tribunal Federal Criminal da Argentina decidiu que ambos os ataques foram ordenados pelo governo de Teerã e realizados pelo Hezbollah.

Agora, ainda que a chancelaria argentina não tenha se posicionado oficialmente sobre o conflito com o Irã, Milei passou a compartilhar mensagens nas redes sociais apoiando a ofensiva ordenada por Donald Trump nos últimos dias.

O argentino havia feito um giro internacional que terminou em Israel poucos dias antes do início dos ataques. Lá, não tratou de interesses comerciais ao se encontrar com o colega israelense, Isaac Herzog, e o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, preferindo usar os encontros para reafirmar sua afinidade com o país.

“Além dos terríveis ataques perpetrados contra a Amia e a Embaixada de Israel em nosso solo, o execrável ataque de 7 de outubro do Hamas incluiu entre suas mortes 27 cidadãos argentinos e também 21 sequestrados”, disse Milei em Israel, quando também reafirmou a promessa de transferir a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém em 2026.

Já de volta à Argentina, ele defendeu o ataque militar israelense ao Irã, mencionando que a medida era “a salvação da cultura ocidental” e que o Irã era um inimigo da Argentina. Dias depois, o ministro da Defesa, Luis Petri, apoiou a investida de Trump, e o endosso foi compartilhado por influenciadores libertários e outros membros do governo.

As declarações, no entanto, despertaram preocupação entre políticos e analistas não alinhados com o governo. A oposição alertou que Milei não pode declarar o Irã como inimigo sem a autorização do Congresso, conforme a Constituição.

O PJ (Partido Justicialista) repudiou a postura do presidente, publicando em uma nota que as palavras de Milei expõem o país ao risco de violência e vão contra os interesses nacionais.

“Nossa agenda internacional deve estar alinhada com os nossos interesses nacionais. Não é conveniente para o povo argentino meter-se de modo militante em guerras alheias e distantes, nas quais não há interesses vitais em jogo e que podem gerar ações de violência em nosso território”, diz a nota dos peronistas.

Em uma entrevista à rádio Altos, o ex-ministro do Interior e ex-deputado radical Federico Storani também criticou a posição de Milei e disse que a escalada da violência no Oriente Médio é preocupante para todos, inclusive a Argentina.

“Isso nos leva de volta ao tempo do governo de Carlos Menem [1989-1999], que também foi muito negativo por relações carnais e alinhamento incondicional, uma posição que já era obsoleta, na lógica da Guerra Fria, do conflito Leste-Oeste”, comentou, referindo-se ao envio de tropas argentinas na Guerra do Golfo, em 1991, que teriam colocado o país como alvo dos atentados.

“Não devemos estar alinhados com nenhuma nação, muito menos em um momento em que há uma escalada da guerra. Devemos manter a posição histórica tradicional de todos os governos argentinos, que é a necessidade de reconhecer a possibilidade da coexistência pacífica de dois Estados naquela região”, disse Storani, em referência ao conflito em Gaza.

Fonte: Folha de São Paulo

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