Agentes federais em equipamento tático armados com fuzis de estilo militar lançaram granadas de efeito moral para dispersar uma multidão irritada perto do centro de Los Angeles na sexta-feira (6), enquanto realizavam uma operação de imigração em um atacadista de roupas. Esse é o mais recente sinal de tensões entre manifestantes e forças de segurança por operações realizadas em lojas, restaurantes e edifícios judiciais.
A operação foi uma de pelo menos três batidas de imigração realizadas em Los Angeles no mesmo dia. Em outra, agentes federais se reuniram em uma grande loja de materiais de construção aonde trabalhadores diaristas geralmente vão em busca de trabalho.
A operação no atacadista de roupas foi uma incomum demonstração de força. Dezenas de agentes federais usando capacetes e camuflagem verde chegaram em dois enormes caminhões blindados e outros veículos não identificados. Logo foram abordados por uma multidão de ativistas imigrantes e apoiadores. Alguns agentes carregavam escudos antimotim, e outros seguravam fuzis e espingardas que pareciam estar carregadas com munição menos letal.
Os agentes abriram caminho para duas vans brancas de passageiros que saíram da área. Pouco tempo depois, enquanto os oficiais embarcavam em seus veículos para partir, alguns agentes lançaram granadas de efeito moral contra grupos de pessoas que perseguiam o comboio que se movia lentamente. Alguns manifestantes haviam atirado ovos e outros objetos nos veículos.
A operação atraiu críticas imediatas de autoridades em Los Angeles, uma cidade liderada por democratas em um condado onde mais de 30% dos residentes são imigrantes. “Como prefeita de uma orgulhosa cidade de imigrantes, que contribuem para nossa cidade de tantas maneiras, estou profundamente irritada com o que aconteceu”, disse a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, em um comunicado, acrescentando: “Meu gabinete está em estreita coordenação com organizações comunitárias de direitos dos imigrantes. Não toleraremos isso.”
Horas após a operação, um segundo confronto entre manifestantes e agentes federais eclodiu do lado de fora de um centro de detenção federal no centro de Los Angeles, para onde os detidos foram levados. Em uma das entradas, manifestantes gritavam e se aproximavam do edifício enquanto oficiais disparavam projéteis menos letais e borrifavam o que parecia ser spray de pimenta. Alguns manifestantes atiraram uma cadeira e outros objetos e pareciam pichar as palavras anti-ICE (a sigla para serviço de imigração dos EUA) no prédio.
No início da noite, o Departamento de Polícia de Los Angeles declarou a manifestação ilegal, ordenou que os manifestantes se dispersassem, e uma linha de policiais com equipamento antimotim começou a esvaziar a área.
A operação da manhã ocorreu em uma empresa chamada Ambiance Apparel, de fabricação de roupas. Omar Diaz, 26, estava trabalhando no local quando vários agentes entraram no prédio, reuniram os aproximadamente 20 a 30 funcionários e os alinharam contra uma parede. “Eles nos entrevistaram um por um”, disse Diaz. “Eles nos levavam separadamente, perguntavam onde nascemos e depois queriam nossa identificação e nossas informações.”
Após ser detido por cerca de uma hora, Diaz, que disse ser cidadão americano, e alguns outros foram liberados. Mas alguns de seus colegas de trabalho, que são principalmente imigrantes do México e da Coreia do Sul, permaneceram com as autoridades.
Um grupo de ativistas a bordo de um caminhão repetia uma lista de direitos por um alto-falante, esperando que os detidos dentro pudessem ouvi-los.
Os agentes no local usavam distintivos em seus uniformes identificando-se como sendo do FBI, Investigações de Segurança Interna e do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos.
Yasmeen Pitts O’Keefe, porta-voz das Investigações de Segurança Interna, disse que 45 pessoas foram presas em três locais em Los Angeles depois que oficiais do ICE executaram quatro mandados de busca federais. Das 45 pessoas presas, 44 foram “administrativamente presas” e uma pessoa foi presa por obstrução.
Uma prisão administrativa é uma prisão civil que o ICE utiliza para deter e, por fim, tentar deportar pessoas por via judicial. Um crescente acúmulo de casos, no entanto, significa que os casos de deportação podem levar anos para serem resolvidos.
O procurador dos EUA para o Distrito Central da Califórnia, Bill Essayli, disse que os agentes prenderam David Huerta, o presidente californiano do Sindicato Internacional de Empregados de Serviços, por impedir agentes federais que realizavam a operação ao bloquear seu veículo.
O governador Gavin Newsom e outros líderes da Califórnia condenaram a detenção de Huerta, que é uma figura bem conhecida no movimento trabalhista do estado. “David Huerta é um líder respeitado, um patriota e um defensor dos trabalhadores”, disse Newson, um democrata, nas redes sociais. “Ninguém deveria ser prejudicado por testemunhar a ação do governo.”
Nas últimas semanas, o ICE intensificou a fiscalização em todo o país —aumentando o número diário de prisões. Stephen Miller, chefe de gabinete adjunto do presidente Donald Trump, disse que o ICE estava buscando fazer um mínimo de 3.000 prisões por dia.
Jim McDonnell, chefe do Departamento de Polícia de Los Angeles, disse em um comunicado que sua agência não estava envolvida em esforços de aplicação da lei civil de imigração. “Embora o LAPD continue a ter uma presença visível em todas as nossas comunidades para garantir a segurança pública, não assistiremos nem participaremos de qualquer tipo de deportação em massa”, disse McDonnell, acrescentando que o departamento não tentaria determinar o status de imigração de ninguém.
A polícia de Los Angeles tem uma política em vigor desde 1979 que proíbe os oficiais de iniciar ação policial com o único propósito de determinar o status de imigração de alguém. A lei da Califórnia também proíbe que recursos estaduais e locais sejam usados para ajudar na aplicação da lei federal de imigração.
As operações de imigração em Los Angeles ocorreram uma semana após uma operação semelhante em San Diego. Vídeo dessa operação mostrou agentes federais usando o que pareciam ser granadas de efeito moral em um esforço para dispersar um grupo de pessoas protestando contra a ação.
