O governo da África do Sul é alvo de cada vez mais críticas à medida que cresce o número de cadáveres que ele recupera em uma mina clandestina em Stilfontein, no noroeste do país —a cifra mais recente, anunciada nesta quarta-feira (15), era de 78 corpos.
Outros 166 mineiros ilegais foram resgatados com vida, embora estejam muitos debilitados, doentes e desidratados. Eles estavam desde agosto presos no subsolo da mina, vivendo dois quilômetros abaixo da superfície no que aparentemente era uma pequena cidade subterrânea, devido a um cerco policial.
Os agentes tentavam forçar os mineradores a voltar à superfície cortando o fornecimento de alimentos e água. A operação de resgate, iniciada na segunda-feira (13), foi ordenada pela Justiça. Ela já tinha permitido que voluntários enviassem ajuda essencial para os mineradores em dezembro.
“Não sabemos exatamente quantas pessoas ainda estão lá”, disse o ministro da Segurança sul-africano, Senzo Mchunu, à emissora eNCA —a polícia afirma que é possível que o número esteja na casa das centenas. “Estamos focados em resgatá-los e em ajudá-los a sair.”
Uma empresa especializada em minas enviou uma grande gaiola metálica para a operação, que pode durar até dez dias. O CEO da empresa, Mannas Fourie, afirmou à emissora Radio 702 que levava cerca de 45 minutos para descer e subir a gaiola. “Estamos colocando o maior número possível de pessoas de uma vez e trazendo-as para a superfície”, disse.
Todos os sobreviventes resgatados até o momento foram imediatamente presos, acusados de invasão de propriedade e mineração ilegal, entre outros crimes. O mesmo ocorreu com os 1.576 homens que saíram da mina por seus próprios meios após o início do cerco.
Os “zama zamas” (palavra em zulu para “aqueles que tentam”) geralmente vêm de outros países para tentar extrair o que resta de minas comerciais abandonadas no território sul-africano. Segundo a polícia, a maioria dos trabalhadores ilegais presa antes do começo da operação era de Moçambique, Zimbábue e Lesoto, e 121 deles já tinham sido deportados para os seus países de origem.
O governo sul-africano diz que a repressão à mineração ilegal é necessária, uma vez que as atividades custam ao Estado e à indústria de metais preciosos centenas de milhões de dólares por ano. “É um ataque à nossa economia por cidadãos estrangeiros, em sua maioria”, afirmou na terça-feira o ministro da Mineração, Gwede Mantashe.
Nesta quarta, porém, um dos partidos que integra a coalizão no poder, Aliança Democrática, pediu ao presidente Cyril Ramaphosa que estabelecesse uma investigação independente com poderes para responsabilizar os culpados. A legenda disse que a situação na mina de Stilfontein saiu “completamente do controle”.
“Esses mineradores, muitos deles trabalhadores não documentados, foram deixados para morrer em uma das manifestações mais horríveis de negligência intencional do Estado na história recente”, afirmou a Federação de Sindicatos da África do Sul em um comunicado.