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Conflito em Gaza expõe fragilidades da diplomacia da China – 13/10/2023 – Igor Patrick

Em março, uma foto do ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, foi divulgada com fanfarra pela imprensa chinesa. Rodeado pelo secretário do Conselho de Segurança iraniano, Ali Shamkhani, e pelo ministro de Estado saudita, Musaad bin Mohammed al-Aiban, Wang aparecia sorridente na imagem que confirmava um feito significativo: Pequim tinha mediado e alcançado um acordo para a restauração de relações diplomáticas entre os dois países, inimigos históricos da região.

O evento era um case de sucesso perfeito da Iniciativa de Segurança Global (ou ISG) que os chineses promovem desde 2022, um plano vago proposto por Xi Jinping de reforma da ordem global moldada pelo Ocidente.

O acordo “proporcionaria salvaguardas mais fortes para a paz e a estabilidade regionais” e mostrava como era possível garantir “segurança mútua, ampla, cooperativa e sustentável, onde nenhum país fortaleceria a própria segurança às custas de outros”, repetia a mídia estatal.

De quebra, ainda concedia a Pequim o crédito de ter obtido sucesso onde os EUA falharam.

A aproximação entre Teerã e Riad foi consolidada com a entrada de ambos no Brics, e Xi iniciou seu plano de cacifar a vitória para ampliar a influência no Oriente Médio. Em junho, recebeu o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que, desacreditado pelos parceiros no Ocidente, voltou-se a Pequim em busca de ajuda e apoio diplomático.

Abbas reafirmou que a Palestina seguia firme no reconhecimento do princípio da China Única (que nega a existência da soberania de Taiwan) e ouviu de Xi promessas de apoio para tratativas de paz com Israel.

Corta para outubro de 2023 e o cenário não poderia ser mais diferente. Com o ataque do Hamas, grupo terrorista apoiado financeira e militarmente pelo Irã, e a guerra de resposta iniciada por Israel, a China se mostrou acuada, temerosa de que qualquer posicionamento mais firme jogasse por terra o frágil castelo de areia que vinha construindo na região.

Pequim pediu o fim das hostilidades e defendeu a solução de dois Estados. Ficou nisso. Até o momento em que escrevia esta coluna, Xi Jinping não tinha se pronunciado sobre o tema.

Recebendo uma delegação de senadores americanos, o líder chinês precisou ouvir do líder democrata Chuck Schumer que os EUA tinham se “decepcionado” com a resposta fraca da diplomacia chinesa e sua inaptidão em condenar os ataques terroristas em Israel.

No Conselho de Segurança, relatam fontes que participam das negociações, os chineses se mostraram dispostos a apoiar comunicados ou resoluções que criticassem a violência “em ambos os lados”, mas foram incapazes de conter a beligerância da diplomacia russa e trazer qualquer plano concreto de desescalada das hostilidades.

Ainda é cedo para análises mais certeiras, mas a impressão inicial é que o conflito em Gaza deixa escancarados os limites da tal nova ordem proposta pela China. Seus méritos teóricos ainda existem, mas faltam corpo, maturidade e experiência para responder a conflitos bélicos.

A Iniciativa de Segurança Global pode até ter pavimentado o caminho para reestabelecer o diálogo entre sauditas e iranianos, mas não serviu para mediar o conflito entre Rússia e Ucrânia e tem se mostrado inútil para o caldeirão de interesses, divisões e alianças de uma região tão delicada como o Oriente Médio.

A China apoiou e armou palestinos nos anos 1960, entusiasmada com a aceitação que as ideias maoístas tinham por lá. Quando começou a se abrir para o mundo e desistiu de promover seu modelo político na década de 1980, ampliou laços com Israel e abraçou a mediação como o melhor caminho para o conflito.

Não tinha plano antes e não tem um agora. E, enquanto achar que dá para fazer política externa apenas negando a ordem global e se mostrando moralmente superior ao Ocidente, sua contribuição aos reais problemas da nossa era seguirá bastante limitada.


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Fonte: Folha de São Paulo

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