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A China promove uma ostensiva campanha de lobby na ONU (Organização das Nações Unidas) para se livrar das acusações de violação aos direitos humanos dos uigures, revelou a agência de notícias Reuters na segunda (22).
Os uigures são muçulmanos e estão concentrados sobretudo na província de Xinjiang, um território autônomo no noroeste chinês. Ao longo de décadas, a região teve ataques terroristas promovidos por movimentos de independência, até que Pequim deteve e internou membros dessa etnia.
- Países ocidentais e órgãos de proteção e defesa dos direitos humanos acusam os chineses de abrirem “campos de concentração”, onde os uigures são forçadas a abandonar idioma e hábitos culturais;
- Pequim afirma que os campos são apenas escolas vocacionais, destinadas a ensinar mandarim e profissionalizar os alunos, preparando-os para o mercado de trabalho.
Segundo a Reuters, que citou quatro diplomatas atuantes no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, a missão chinesa enviou memorandos para membros do grupo que avaliarão o histórico do país nesta seara.
Uma reunião para isso está marcada para esta terça, a primeira desde que a ONU divulgou um relatório em 2022 sobre o tema. Nele, afirmou que a detenção de uigures e outros muçulmanos na região de Xinjiang pode constituir crimes contra a humanidade.
A agência de notícias diz ter tido acesso a uma nota diplomática em que a missão chinesa pede apoio a países aliados “levando em conta nossas relações amistosas e de cooperação”. Alguns membros chegaram a receber tópicos específicos de discussão a serem levantados durante o encontro, todos apresentando potenciais falhas nas acusações do Ocidente e destacando o trabalho de Pequim em áreas como o direito das mulheres e das pessoas com deficiência.
A missão da China não respondeu diretamente às acusações, mas disse em nota que “se opõe firmemente à politização dos direitos humanos” e “promove uma governação global de direitos humanos mais justa, equitativa e inclusiva”.
Por que importa: a despeito da quantidade substancial de evidência de possíveis violações em Xinjiang, a China mostra com esse movimento que ainda tem considerável apoio diplomático para tentar evitar sanções.
Em outubro, mesmo com significativa pressão da sociedade civil, ONGs e do bloco ocidental, o país asiático foi eleito para uma das 15 cadeiras do Conselho de Direitos Humanos. Antes disso, conseguiu uma moção apoiada pelos Estados Unidos e outros membros ocidentais que apelava a um debate sobre os alegados abusos contra os uigures.
Pare para ver
Sobre a tela: O trabalho retrata homens carregando armas e bombas marchando em direção ao inferno e é parte do treinamento “anti-terrorismo” promovido pela legenda com uigures da região.
O que também importa
★ Treze alunos de nove e dez anos morreram após incêndio em um dormitório escolar na China. O fogo atingiu a Escola Yingcai, na província de Henan, nesta sexta, segundo a agência de notícias estatal Xinhua. Cerca de 30 alunos estavam no dormitório quando o acidente começou. A instituição privada, funciona há dez anos e atende alunos que vivem em áreas rurais. O diretor da escola foi detido e uma investigação está em andamento.
★ Washington não espera negociações formais de controle de armas nucleares com a China tão cedo, mas quer iniciar discussões sobre o tema. A afirmação foi dada por um oficial sênior da Casa Branca na quinta. Responsável americano por coordenar esforços de não proliferação nuclear, Pranay Vaddi defendeu a necessidade de envolver os principais tomadores de decisão chineses nas negociações. Os dois países realizaram em novembro suas primeiras conversas sobre controle de armas nucleares desde 2018, mas a reunião terminou sem acordos. Segundo o Pentágono, a Pequim tem hoje mais de 500 ogivas nucleares operacionais, contra 3700 dos EUA.
★ A Nokia vai vender sua participação na TD Tech, uma empresa especializada em tecnologia sem fio que a finlandesa controlava com a Huawei. A TD Tech continuará com a Huawei, enquanto a parte da Nokia passa para as mãos de um grupo que inclui a estatal Chengdu High-Tech Investment Group e a Chengdu Gaoxin Jicui Technology Co, bem como a empresa de capital de risco Huagai. A TD Tech atua em mais de 100 países e conta com 8 milhões de clientes industriais.
Fique de olho
A deputada republicana do Oregon Lori Chavez-DeRemer pediu ao governo Biden que investigue a compra de terras em Oregon por um membro do Partido Comunista Chinês.
- Chen Tianqiao, que é membro do PC Chinês, comprou quase 81 mil hectares de terras florestais no Oregon por US$ 85 milhões (cerca de R$ 418 milhões) em 2015;
Em documento, enviado ao Departamento do Tesouro americano na quarta (17), a parlamentar expressa “profunda preocupação” com o fato de o segundo maior proprietário estrangeiro de terras agrícolas nos EUA ser um “bilionário chinês e membro do Partido Comunista Chinês”.
Por que importa: a proibição à compra de terras nos EUA por cidadãos chineses promete ser um dos grandes imbróglios políticos nos próximos anos. O tema pautou discussões em estados Texas e Flórida.
Neste ano, o deputado Mile Gallagher, que preside o Comitê Especial da Câmara sobre o PC Chinês, disse à Fox News que o grupo prepara um projeto de lei bipartidário para coibir a venda de terras a membros do partido nos EUA.
Para ir a fundo
- Com o aumento das incertezas profissionais e os riscos geopolíticos, milhões de jovens chineses têm recorrido ao exoterismo em busca de paz. O Sixth Tone publicou uma reportagem internacional em que detalha como funciona o mercado de curas especiais, cartas de tarô e meditação. Você pode ler aqui. (gratuito, em inglês)
- Lançado nesta semana, o podcast “Dissident At The Doorstep” conta como Chen Guangcheng, um dissidente chinês conhecido por seu ativismo pelos direitos humanos, se tornou um apoiador do ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Ouça aqui. (gratuito, em inglês)